O Mito do Empreendedorismo e a Alienação da Consciência de Classe
Por Janilson Fialho
A ideologia neoliberal, amplamente defendida pela direita e pelos representantes do empresariado, dissemina com insistência o discurso do empreendedorismo como alternativa individual de ascensão social. Esse discurso, porém, serve como ferramenta ideológica para alienar a consciência da classe trabalhadora, obscurecendo as verdadeiras condições materiais que limitam sua mobilidade social. Ao invés de reconhecer as desigualdades estruturais do sistema capitalista, o empreendedorismo é vendido como uma saída meritocrática, ignorando deliberadamente os entraves reais enfrentados pelos trabalhadores.
O conceito de “empreender” é, nesse contexto, uma abstração. Não se trata de uma atividade ao alcance da maioria da população, mas sim de uma fantasia projetada sobre uma realidade hostil. Segundo dados do IBGE (2023), cerca de 39% dos trabalhadores brasileiros estão na informalidade, muitos dos quais são chamados de “empreendedores por necessidade” — ou seja, pessoas que recorreram ao empreendedorismo por não terem acesso a empregos formais, e não por espírito de inovação ou vontade de gerir um negócio.
A crítica levantada por setores da esquerda e por movimentos comunistas a essa lógica neoliberal é clara: que tipo de empreendedorismo é possível para um trabalhador que vive em um regime de trabalho exaustivo, como o modelo 6x1, com salários baixos e jornadas longas? Em 2023, o salário mínimo brasileiro era de R$ 1.302,00, enquanto o DIEESE estimava que o valor necessário para cobrir as necessidades básicas de uma família deveria ser de R$ 6.600,00 — ou seja, mais de cinco vezes o valor pago atualmente. Como, então, falar em “guardar um dinheirinho” ou investir, se o básico mal é garantido?
Além disso, o trabalhador enfrenta um sistema financeiro profundamente excludente. Segundo o Banco Central (2024), as taxas de juros para crédito pessoal ultrapassavam os 130% ao ano, tornando quase impossível contrair empréstimos sem cair em armadilhas financeiras. O crédito bancário no Brasil, dominado pelos grandes bancos privados — como Itaú, Bradesco e Santander — serve muito mais à acumulação de lucros da elite rentista do que ao desenvolvimento de pequenos negócios populares.
Ademais, a estrutura tributária brasileira é regressiva: os mais pobres pagam proporcionalmente mais impostos do que os mais ricos. De acordo com o estudo do Instituto de Justiça Fiscal (IJF), enquanto quem ganha até 2 salários mínimos compromete mais de 50% da renda com tributos, os mais ricos — inclusive bilionários — usufruem de isenções em lucros e dividendos. Esse sistema alimenta uma elite empresarial e financeira que domina o sistema político, inviabilizando qualquer tentativa genuína de ascensão econômica por parte da classe trabalhadora.
Portanto, o discurso do empreendedorismo, tal como promovido pelo neoliberalismo, não passa de uma falácia ideológica, que transfere a responsabilidade pelo fracasso estrutural do sistema para o indivíduo. Essa narrativa despolitiza o debate econômico, culpabiliza o trabalhador por sua condição e mascara as relações de exploração e desigualdade que sustentam o capitalismo. Em vez de promover libertação, essa ideologia reforça a dominação, perpetuando o mito de que todos podem "vencer" se simplesmente "se esforçarem mais".
A crítica comunista é, então, incisiva: não há como empreender em um sistema que nega o básico — tempo, renda e dignidade — ao trabalhador. O verdadeiro caminho de emancipação não está em soluções individuais ilusórias, mas na organização coletiva, na consciência de classe e na transformação das estruturas sociais e econômicas que perpetuam a exploração.
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