Acerca da sociedade e da existência inautêntica em Martin Heidegger

Acerca da sociedade e da existência inautêntica em Martin Heidegger

Por Janilson Fialho

As reflexões que o filósofo alemão Martin Heidegger faz sobre a sociedade estão dentro do aspecto da "existência inautêntica", ou seja, referem-se ao mundo em que o indivíduo está inserido, que o faz ser-outro. Esse mundo não é composto apenas de coisas ou instrumentos utilizados no dia a dia, mas é um mundo onde existem outros indivíduos. Ele discute o ser dentro de um mundo que contém outros entes que possuem a possibilidade do ser, ou seja, de serem eles mesmos.

A questão da sociabilidade, para Heidegger, é apresentada de forma negativa. Ele vê a sociedade como um lugar da "impessoalidade", ou como é denominado em alemão: "Das Man" (confira esse termo em "Ser e Tempo", §27). Esse mundo social é um espaço em que se pensa o que a maioria pensa. Na vida social, prevalecem as opiniões, sentimentos e preferências coletivas. Heidegger utiliza a expressão "man" para descrever a essência do que se pensa e do que se faz no âmbito social.

Esse mundo da sociedade é um espaço em que todos se ocupam com os outros e ninguém se ocupa de si mesmo. É um mundo onde todos estão presentes, mas há uma ausência de individualidade genuína, conforme afirmado por Heidegger. No cotidiano, as pessoas se preocupam com as outras e pouco com elas mesmas. O indivíduo se ocupa — ou se pré-ocupa — com os outros em vez de olhar para dentro de si. Esse estado de impessoalidade caracteriza um mundo nebuloso, onde as coisas não estão claramente definidas. Deste modo, para compreender melhor essa linguagem de Heidegger, a noção de "Das Man" representa essa impessoalidade, esse estar mergulhado numa coletividade indefinida.

Além disso, Heidegger argumenta que a sociedade não é o último lugar aonde se direciona o ser; na verdade, para ele, a questão do ser é essencialmente individual. Contudo, ele não defende uma individualidade exacerbada ou um individualismo desenfreado. Para ele, esse também não é o caminho, porque isso pode levar a um "solipsismo existencial". Afinal, em Heidegger, o conceito de "ser-outro" é importante, porque ele está intrinsecamente ligado à nossa existência no mundo. O filósofo sugere que o ser humano não é uma ilha isolada, mas sim um "ser-no-mundo", constantemente interligado e influenciado pelos outros, ou seja, o ser-outro destaca que nossas experiências, pensamentos e ações são moldados pelas relações que estabelecemos com as pessoas ao nosso redor.

Entretanto, o problema se encontra na "massa social". Heidegger argumenta que a sociedade moderna, especialmente marcada pela ascensão da técnica — ela se tornou o centro da vida moderna, determinando nossas ações e pensamentos — e do modo de produção industrial, tem promovido um esquecimento profundo do ser. Em vez de se conectar com a essência da existência, as pessoas se perdem em um mundo de objetos, consumismo e superficialidade. Deste modo, o esquecimento do ser se agrava na sociedade consumista. A busca incessante por bens materiais — a característica marcante do consumismo — nos afasta da nossa essência, transformando-nos em escravos de necessidades artificiais. A superficialidade, marcada pela valorização da aparência, da fama e do sucesso imediato, impede que nos conectemos com questões mais profundas da existência.

Por fim, as consequências desse esquecimento do ser são profundas e abrangentes. Sem uma conexão com o sentido da vida, experimentamos um vazio existencial e uma angústia profunda. A redução do ser humano à condição de objeto, a ser manipulado e controlado, leva à desumanização e à perda da existência autêntica.

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