O Pensamento de Heráclito: comentários acerca dos seus fragmentos (207, 208 e 209), por Janilson Fialho

O Pensamento de Heráclito: comentários acerca dos seus fragmentos (203 e 204)

Por Janilson Fialho

A unidade das coisas encontra-se sob a superfície; ela depende de uma reação equilibrada entre os contrários. Portanto, faremos uma análise dos seguintes fragmentos de Heráclito (207, 208 e 209):

Fr. 207: Uma conexão invisível é mais poderosa que uma visível.

Fr. 208: A verdadeira constituição das coisas gosta de se ocultar.

Fr. 209: Eles não compreendem como é que o que está em desacordo consigo mesmo [à letra: como o que estando separado se reúne consigo mesmo]: há uma conexão de tensões opostas, como no caso do arco e da lira.

Os fragmentos 207, 208 e 209 mostram, ou pelo menos sugerem – principalmente os dois primeiros – uma regra geral que se destina a uma aplicação do funcionamento do mundo como “um todo”, ou seja, uma somatória de partes que constitui uma conexão que não se manifesta à primeira vista. É, portanto, o que fora dito no fragmento 207, isto é, a conexão invisível, mas não é qualquer conexão, ela deve ser a conexão invisível dos contrários, que é a mais forte do que outros tipos, como será mostrado em 208, que ela é a “verdadeira constituição das coisas”.

Agora focaremos nossa atenção para o fragmento 209, que é um dos mais conhecidos, vamos analisá-lo com mais precisão. Ele usa dois exemplos para ilustrar uma ideia: um arco e uma lira. No caso do arco, duas tensões opostas (a tensão da corda e a tensão do arco em si) trabalham juntas para criar uma estabilidade que mantém a flecha em repouso nessas duas tensões. Também podemos pensar em mais duas tensões para o exemplo do arco, ou seja, a tensão do arco e a dos braços. Já na lira, as cordas são tensionadas em diferentes alturas de forma oposta para produzir uma música bonita. Portanto, Heráclito sugere que há uma conexão entre as tensões opostas, e que isso nos ajuda a compreender como coisas aparentemente discrepantes podem ser compatíveis e equilibradas. Ele também parece estar sugerindo que essa tensão entre opostos é uma força fundamental no universo e que uma coerência necessária para a sua existência e harmonia. No mais, prevalece aqui a sua ideia de unidade por meio da harmonia dos contrários.

Referências:

KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos: História crítica com seleção de textos. Tradução de Carlos Alberto Louro Fonseca. 4ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

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