Contextualização da Crítica da razão pura de Kant, por Janilson Fialho
Contextualização da Crítica da Razão Pura de Kant
Por Janilson Fialho
A Crítica da Razão Pura, ou em seu título original em alemão: Kritik der reinen Vernunft, é a principal obra de teoria do conhecimento do filósofo Immanuel Kant. Esta obra é considerada como um dos mais influentes trabalhos na história da filosofia, e dá início ao chamado idealismo alemão. Afinal, é por meio deste livro que Kant separa os domínios da ciência e da ação, mostrando como o conhecimento se constrói a partir do fenômeno que alia a intuição sensível ao conceito do intelecto, pelas chamadas categorias lógicas que constituem objetos, permitindo que possam ser conhecidos de forma universal e necessária.
Devemos ter em mente a complexidade da época na qual Kant cresceu para podermos contextualizar a sua obra, afinal, a sua época carrega um grande peso significativo, e até mesmo Kant a chamou de época da “Aufklärung”, ou seja, a época do iluminismo (ou do esclarecimento). Podemos perceber com grande facilidade as muitas das correntes espirituais, políticas e sociais que circulavam nesta época no pensamento do filósofo. Um exemplo disso é o grande desenvolvimento das ciências naturais, Kant foi bastante influenciado por grandes pensadores, como Copérnico, Galileu e Newton, por exemplo.
Agora no desenvolvimento interno da filosofia moderna, desde o posicionamento do filósofo Descartes contra Bacon, havia uma forte discussão entre o empirismo e o racionalismo, ou seja entre filosofia experimental e a metafísica; além das ideias de Locke, Leibniz, Wolff, Hume e a filosofia moral escocesa de Thomas Reid. Contudo, estas foram as influências que determinaram as concepções da filosofia de Kant. Entretanto, iremos agora concentrar a nossa atenção, ainda que de modo um tanto sucinto, somente a situação filosófica da época.
Como foi dito anteriormente, havia uma discussão entre o empirismo e o racionalismo que formava todo o centro do debate filosófico desde a nova fundamentação da filosofia pelo "cogito cartesiano", isto é, pela concepção filosófica de Descartes, este que também ajudou a formar o racionalismo que posteriormente sería seguido por Spinoza e Leibniz. Esses estavam em contraposição à tradição empírica da filosofia experimental de Bacon, Hobbes, Locke, e Hume; afinal, a concepção racionalista defendia a tese de que a essência deveria ser concebida não pela experiência empírica, mas somente pelas idéias claras e distintas da razão humana. Portanto, tratava-se de uma alternativa decisiva de conhecimento somente pela experiência na observação e experimentação por meio da razão e seus conceitos. Vejamos as principais ideias dessas duas abordagens.
A principal tese do empirismo, vamos começar por ela, era a de que todo nosso conhecimento é empírico, ou seja, que o nosso conhecimento sobre o mundo vem apenas da experiência sensorial. Desta maneira, tudo aquilo sobre o qual podemos pensar e refletir, isto é, tudo aquilo que podemos formar como conceito só tem sentido para nós enquanto está relacionado a um material empírico, ou a experiência do real; para além disso, eles dizem que não há nenhum outro. Por esse motivo a razão não é nenhuma faculdade com identidade própria e que poderia a partir de si mesma produzir ideias ou conceitos, mas apenas uma faculdade passiva e receptiva, possuindo como único conteúdo para aquelas representações de conteúdos provindos das percepções empíricas que vieram do mundo das percepções e que são enviadas para lá. A razão, compreendida desse modo, pode trabalhar então somente pelas representações dadas, ou seja, somente se relacionar umas com as outras e apenas constatar as identidades ou as diferenciações; entretanto, nenhuma outra função além destas lhe seria própria.
Por outro lado, a via do racionalismo defende a tese de que todos os nossos conhecimentos seriam os conhecimentos racionais, pois também aquilo que nós cremos ser o conhecimento empírico é tão somente um conhecimento da razão. O racionalismo, portanto, considera que a sensibilidade é apenas uma faculdade menor da razão. Onde conhecemos, de verdade, a realidade, a sensibilidade não é o princípio básico, mas a fonte do conhecimento. Portanto, essa via traz como argumento a noção de que a razão é a única forma que o ser humano tem de alcançar o verdadeiro conhecimento por completo.
Sendo assim, Kant tentou buscar uma solução na sua obra Crítica da razão pura, com o intuito de provar que ambas concepções seriam totalmente parciais, e que somente uma mediação levaria a uma nova teoria do conhecimento humano e, por assim dizer também, a uma nova visão da metafísica. Ademais, ele fez tal crítica pensando que quem defende um empirismo radical não vê que ela mesma não é uma teoria empirista, aliás, a crítica kantiana ao empirismo não permanece apenas nessa constatação, a qual já seria de grande relevância para a refutação do empirismo; ela contém ainda uma análise positiva da estrutura do conhecimento empírico, mas que seria impossível sem os conceitos apriori da razão. Por outro lado, quem defende a ideia de um racionalismo radical e totalmente unilateral, não vê, por sua vez, a função própria dos sentidos como fonte de conhecimento. Portanto, sem dados sensíveis nós não teríamos nenhuma experiência; mas que fique claro que também não teríamos nenhuma experiência sem os conceitos a priori do entendimento.
Contudo, dada a seguinte contextualização, podemos dizer que Kant defende a seguinte tese na sua obra Crítica da razão pura, portanto, de que a sensibilidade sem o entendimento é cega, e o entendimento sem a sensibilidade permanece vazio. “Sem a sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, sem entendimento nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdos são vazios, intuições sem conceitos são cegas” (B 75). Tanto um como o outro, tem seus obstáculos, isto é, tanto a razão especulativa, na medida em que deixa de validar suas investigações em testes práticos, torna-se dogmática. Já o empirismo encontra oposição no ceticismo, que argumenta que a Natureza é o reino do contingente e, por esta razão, não pode ser fonte de conhecimento universal. A faculdade da razão e também a faculdade da sensibilidade, portanto, são para a possibilidade de nosso conhecimento, cada uma ao seu modo, indispensáveis. Entretanto, Kant mostrou que nosso saber não depende apenas de um lado da lógica e de um outro lado da experiência. Há, muito mais, ainda que em determinados limites, que um saber a priori sobre mundo da experiência que pode ser determinado de forma segura, por meio de uma mediação entre o empirismo e o racionalismo, e isto não foi, porém, o único mérito histórico significativo, pois podemos ver também uma solução de certos problemas e o desenvolvimento do pensamento ocidental que, por um lado, media alternativas fundamentais e aparentemente inconciliáveis e, por outro lado, até mesmo os supera.
Referências:
KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulberkian, 1994.
KESTERING, Julio Cesar. Considerações acerca da obra Crítica da razão pura de Kant.
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