Os principais elementos que compõem a teologia aristotélica

 Os principais elementos que compõem a teologia aristotélica

Por Janilson Fialho

Aristóteles tentou responder com precisão ao segundo dos problemas da "usiologia", o problema mais radical, que é o seguinte: Existe só a realidade física ou também algum outro ser além dela? E, ao fazê-la, lançou as bases da teologia racional.

Podemos dizer de início, e como já foi mostrado na questão anterior, que, para Aristóteles, existem três substâncias hierarquicamente ordenadas. Duas são de natureza sensíveis, sendo a primeira constituída pelas substâncias sensíveis que nascem e perecem, a segunda constituída pelas substâncias sensíveis, mas corruptíveis. A substância sensível corruptível está submetida a todos os tipos de mudança, porque justamente a matéria de que é constituída inclui a possibilidade de todos os contrários, ou seja, estão sujeitas a aumentos e diminuições, as alterações, à geração e à corrupção. Portanto, temos agora a terceira substância, mais precisamente a substância imóvel, que é eterna e transcendente ao sensível, que é chamada de Deus ou Movente imóvel, e as outras substâncias moventes das várias esferas que formam o céu (Cf. Metafísica,Λ 7-8).

Os dois primeiros gêneros de substâncias são constituídos de matéria e forma, já a terceira, ou seja, a substância "supra-sensível" é forma pura e absolutamente privada de matéria. Sabendo disso, a existência do supra-sensível é demonstrada da seguinte maneira, por Aristóteles:

Em primeiro lugar, o Princípio deve ser eterno: se eterno é o movimento, então eterna deve ser sua causa; ou, em outras palavras, para ser capaz de produzir um movimento eterno, a causa só pode ser também eterna. Em segundo lugar, o Princípio deve ser imóvel; porque somente o imóvel, com efeito, é causa absoluta do imovel. Podemos pensar da seguinte maneira sobre isso: fisicamente, tudo que é movido é movido por outro, e esse outro é movido por outro. Por exemplo, uma pedra é movida por um bastão, e o bastão é movido pela mão e a mão é movida homem. Contudo, para poder explicar todo o movimento é preciso submetê-lo a um princípio por si não ulteriormente movido, pelo menos relativamente àquilo que ele move. Seria impensável ir de movimento em movente ao infinito. Portanto, deve existir um princípio absolutamente primeiro e absolutamente imóvel, do qual depende o movimento de todo o universo. Em terceiro lugar, o Princípio deve ser totalmente privado de potencialidade, portanto, deve ser ato puro. Se esse Princípio tivesse potencialidade, ele poderia existir também não em ato; mas isso é absurdo, visto que nesse caso não existiria um movimento eterno (por exemplo, o dos céus), isto é, sempre em ato. Contudo, para explicar o movimento eterno em ato é porque deve existir necessariamente um Princípio primeiro, eterno, ato puro, privado de qualquer materialidade e potencialidade.

Concluiremos essa questão afirmando que existe um movimento eterno, e que é necessário haver um Princípio eterno que o produza, e que é necessário que o Princípio seja eterno, se eterno é o que ele causa, imóvel, se a causa absolutamente primeira do móvel é o imóvel, e é ato puro, se é sempre em ato o movimento que ele causa. Este e Movente imóvel, ou Deus, que é a substância supra-sensível, que há de mais excelente, que pensa em si mesmo, que não precisa de nada além de si mesmo para existir.

Comentários

Postagens mais visitadas