Comentário: o Eterno Retorno de Nietzsche apresentado por Deleuze, por Janilson Fialho

Comentário: o Eterno Retorno de Nietzsche apresentado por Deleuze

Por Janilson Fialho

Vejamos nesse comentário um conceito bastante interessante, e um dos mais importante na filosofia nietzschiana, mostrado por Gilles Deleuze em o "Mistério de Ariadne segundo Nietzsche". A citação do nosso comentário é:

"Assim o labirinto é o anel, a orelha, o próprio Eterno Retorno que se diz do que é ativo ou afirmativo. O labirinto já não é o caminho no qual nos perdemos, porém o caminho que retorna. O labirinto já não é o do conhecimento e da moral, e sim o da vida e do Ser como vivente".

Tal passagem está relacionada à ideia do labirinto como símbolo do "Eterno Retorno" e da afirmação da vida.

Nietzsche afirma que o labirinto não é mais o caminho em que nos perdemos, mas sim o caminho que retorna. Isso significa que o labirinto deixa de ser visto como uma linha toda emaranhada, confusa e caótica, isto é, ela passa a ser compreendida como um caminho que nos leva de volta à essência da vida e do Ser como seres viventes. O labirinto, nesse contexto, não se refere mais ao conhecimento e à moralidade, que muitas vezes são vistas como limitantes e repressoras da vida. Em vez disso, ele é associado à vida em seu sentido mais pleno e autêntico. Ele é um convite a percorrer os caminhos complexos e imprevisíveis da existência, abraçando a diversidade e a multiplicidade das experiências.


Desta maneira, ao dizer que o labirinto é este anel, isto é, o próprio Eterno Retorno que se diz ativo ou afirmativo, é a representação do "Ouroboros", ou seja, a serpente que morde a própria cauda. Nietzsche está sugerindo, portanto, que o labirinto (o próprio símbolo do Eterno Retorno) é a ideia de que tudo o que aconteceu, está acontecendo e acontecerá, se repetirá infinitamente. O ontem, o hoje e o amanhã não se sucedem, mas estão conectados em um círculo infinito e imutável em seu curso, então tudo está se repetindo, ou seja, tudo isso já aconteceu antes como um déjà vu.


Em seu livro Ecce homo (1888), Nietzsche também traz a ideia do Eterno Retorno, ao dizer que: se o tempo não é linear, não faz sentido distinguir entre o “antes” e o “depois”. Portanto, se tudo retorna, o futuro já é um passado, tanto quanto o presente. Ou seja, se o passado se repete, o sofrimento continuará sendo experimentado repetidas vezes. Entretanto, o Eterno Retorno, está relacionado à afirmação da vida e à busca por uma existência plena e autêntica, ou seja, mesmo com todos os sofrimentos, nós os aceitamos por fazer parte da vida.


Contudo, afirmamos a vida mesmo diante do sofrimento, porque acreditamos, segundo Nietzsche, que o sofrimento pode ser transmutado em algo positivo, assim valorizamos a existência em sua totalidade, como também buscamos superar a moralidade tradicional que nega nos a fruição da vida e enfatiza a importância da autenticidade e responsabilidade que há nela. Nietzsche, por fim, vê o Eterno Retorno como uma filosofia que nos convida a abraçar a vida e o destino em sua plenitude (o amor fati), incluindo todos os seus aspectos, sejam eles alegres ou dolorosos.

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