Por que, segundo Heidegger, a filosofia, ou seja, a metafísica, não pode ser medida pelo padrão comum da ciência? Quais os conceitos fundamentais da metafísica, segundo Heidegger?

 Por que, segundo Heidegger, a filosofia, ou seja, a metafísica, não pode ser medida pelo padrão comum da ciência? Quais os conceitos fundamentais da metafísica, segundo Heidegger?

Janilson Ferreira Fialho Filho

(24/04/2023)

      A ciência se caracteriza pelo fato de, por meio de um modo que lhe é próprio, se expressar unicamente à própria coisa, dando a primeira e a última palavra. Em tal objetiva maneira de perguntar, determinar e fundar o ente, de se realizar uma submissão peculiarmente limitada ao próprio ente, para que este realmente se manifeste.

  Desta maneira, Segundo Heidegger, há três dimensões que fazem referência ao mundo, como o comportamento e a irrupção, estes que trazem, em sua radical unidade, uma clara simplicidade e severidade do ser-aí, na existência científica. Heidegger assim esclarece a existência pela ciência:

    Aquilo para onde se dirige a referência ao mundo é o próprio ente — e nada mais.

    Aquilo de onde todo o comportamento recebe sua orientação é o próprio ente — e além dele nada.

  Aquilo com que a discussão investigadora acontece na irrupção é o próprio ente — e além dele nada.

     Entretanto, Heidegger aponta que é estranho que precisamente, no modo como o cientista assegura o que lhe é mais próprio, ele acaba falando de outra coisa. Ora, quando se é pesquisado deveria ser apenas o ser, ou apenas o ente e mais — nada; somente o ente e além dele — nada; unicamente o ente e além disso — nada.

     Com esse "nada" Heidegger aponta a limitação da ciência. O que acontece com este nada? Por que nos preocupamos com este nada? O nada é justamente rejeitado pela ciência e abandonado como o elemento nadificante. Porém, quando se abandona o "nada", ele não é admitido então?

    Com isto Heidegger conclui sobre a seriedade e sobriedade da ciência a esse problema: a ciência se ocupa unicamente do ente. O nada — que outra coisa poderá ser para ciência que horror e fantasmagoria? A ciência nada quer saber do nada. Esta é, afinal, a rigorosa concepção científica do nada. (HEIDEGGER, 1929, P. 53) Como vimos, Heidegger apontou a limitação da ciência, e com isso ele entende que a metafísica sendo a determinação que explica do sentido do ser a partir do ser do ente que faz as perguntas e dá as respostas para recuperar, enquanto tal e em sua totalidade e sua compreensão, e que pode responder o problema do nada.

  Segundo Heidegger, a filosofia, ou melhor a metafísica, lida com questões que estão além do mundo físico e empírico, como a existência, o ser e o tempo. Esses conceitos são abstratos e difíceis de medir com métodos científicos, porque não são objetos observáveis ou mensuráveis. Para Heidegger, a metafísica não deve ser vista como uma forma de conhecimento como ciência, mas como uma forma de questionamento que busca uma compreensão mais profunda da realidade e do ser do ente.

   Primeiramente devemos entender os conceitos fundamentais da metafísica de Heidegger para chegarmos ao que ele fala sobre a ciência. Heidegger ao repetir o questionamento da metafísica como uma forma de evidenciar o modo pelo qual o "Dasein" entra em relação direta como o "nada", tornando-se então, assim, um tema decisivo para a compreensão da questão do ser e de seu esquecimento histórico. O nada, é para Heidegger, o que desvela o homem na sua existência, ou seja, no “ir para além” da realidade atual em direção às suas possibilidades mais próprias. Para demonstrar todo esse trajeto, recorremos às obras "Ser e Tempo" e "Que é metafísica?", pois é lá que estão os conceitos fundamentais da metafísica, como: mundo, finitude, solidão e o nada.

   Essas obras citadas buscam evidenciar o privilégio das disposições da angústia e do tédio e seus respectivos modos de abertura. Desta maneira, podemos então examinar e modular que o tédio sendo ele profundo pode revelar o nada, mas apenas de forma indireta, isto é, através de uma experiência do ente em seu todo, mantendo, no entanto, oculto o nada que se busca. Por outro lado, a partir da descrição da tonalidade afetiva da angústia como um encontrar-se fundamental do Dasein, dessa maneira procuramos examinar como ela se constitui como um modo de revelação e abertura que assinala o Dasein, na medida em que através dessa o Dasein pode escolher existir de modo próprio desde que não fuja ao se ver diante de sua verdadeira condição. O "encontrar-se" é algo fundamental da angústia, pois ela assinala uma dupla função: a primeira função está situada no traço que constitui a existência do Dasein, que no qual reside a totalidade do ser da existência enquanto disposição compreensiva, ou seja, que ofereça um chão fundamentado na fenomenologia para a apreensão explícita da totalidade originária do Dasein. Com relação a isso, temos a segunda função, a angústia, que é na análise existencial de Heidegger, algo que se mostra em seu papel estratégico por se apresentar como fenômeno ontológico de manifestar a realidade que pertence essencialmente a originalidade do Dasein, pois nos remete à totalidade da existência como ser-aí, ou ser-no-mundo, que é então ser-a-frente-de-si-mesmo, é manter-se aberto para as possibilidades daquilo que aparece. A angústia realiza um período de anular de uma certa maneira o “mundo”, pois como é dito, somos mais os outros do que nós mesmo, portanto ela conduz o Dasein a si-mesmo, em outras palavras: é estar “presente face à face com si”, ou seja, de colocar diante de suas possibilidades mais próprias do seu ser: a propriedade e impropriedade. Mais precisamente, a filosofia de Heidegger aponta para procurarmos compreender em que medida a angústia enquanto tonalidade afetiva fundamental nos coloca face ao nada pela suspensão de todo ente intramundano, implica o estágio anterior e necessário para que se possa colocar a questão do ser. O nada, visto que não é um ente determinado, é como que o próprio véu do ser que se revela em nossa existência por meio da angústia. Neste sentido, a ideia é propor uma interpretação que visa mostrar a importância de como as tonalidades afetivas supracitadas e sua relação com o nada permite pensar uma verdadeira possibilidade de virada da existência humana.

Referências:

DUBOIS, Christian. Heidegger: Introdução a uma leitura. Tradução: Bernardo Barros Coelho de Oliveira. --- Rio de Janeiro: Jorge Zahar edit., 2004.

HEIDEGGER, Martin. Que é Metafísica?. In: Conferências e Escritos Filosóficos. Tradução e notas: Ernildo Stein. --- Nova Cultural, 1991.

HEIDEGGER, Martin. Que é isto -- a filosofia?. Tradução e notas de Ernildo Stein. --- Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. --- (Vozes de Bolso)


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