Conhecimento Filosófico na prática
Conhecimento Filosófico na prática
O
conhecimento filosófico é baseado na reflexão, construção de conceitos e
ideias, a partir do uso do raciocínio, este que tem como base o esforço em
questionar problemas diante da vida e da existência humana. Portanto, este
conhecimento é a capacidade racional e lógica do ser humano em refletir,
principalmente sobre questões subjetivas, imateriais, conceitos e ideias.
Apesar de existir uma separação “metodológica” entre os tipos de conhecimento no processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar nas diversas áreas e fazer as mesmas perguntas, por exemplo: “o que é o homem?”. Ao estudar o homem, isto é, podemos tirar uma série de conclusões sobre sua atuação na sociedade, ou melhor, podemos nos perguntar o que seria “ser homem”, baseado em algumas áreas do conhecimento, e aliás, cabe dizer que cada área do conhecimento pode resolver ou iluminar a solução deste problema; cada área do conhecimento pode dar alguma resposta à sua maneira, por exemplo, o homem pode ser explicado no senso comum com o hábito comportamental ligado ao fator sócio-cultural; podemos analisá-lo como ser biológico determinado por cromossomos XY, verificando, através da investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; podemos questioná-lo quanto à sua origem e destino, assim como ser criado por uma divindade, à sua origem e destino. Sendo assim, foram apresentadas algumas questões que podem ser trabalhada para obter respostas de certa forma racionalmente, entretanto, só me utilizarei do conhecimento filosófico como objeto de estudo. Contudo, para fins mais didático, será utilizada anteriormente como sendo uma demonstração para exercitar o nosso ponto de vista crítico e por em prática a nossa maneira de explicar o homem.
Temos
em mente que para a nossa pesquisa ser efetiva, deve se realizar uma grande desconstrução
do objeto de estudo. Entretanto, o que seria essa desconstrução? Para se ter uma
noção sobre isso, temos como exemplo o filósofo Jacques Derrida (1930 – 2004),
pois este cunhou uma noção de desconstrução que funciona muito bem para o nosso
tema de pesquisa filosófica; porque Derrida afirma que a desconstrução é um
gesto “anti-estruturalista”, para ser mais claro, é preciso utilizar uma metáfora
para melhorar o entendimento sobre esse termo: “o que está em jogo não é
destruir uma parede, mas sim você retirar tijolo por tijolo dessa parede, ou
seja, desfazer a parede camada por camada (ou etapas)”. Estamos nos referindo metaforicamente
que a parede seja o homem, e os tijolos portanto seriam os padrões de
comportamento que definem o que e ser o homem. Ao se fazer este processo
detalhado de desconstrução da estrutura para se observar a base inicial, isto
é, consideramos que a pretensão dessa pesquisa tenha como objetivo uma desmontagem
de ambiguidades, falhas, fraquezas e contradições, ou também de ideias
formadas, tidas como verdades absolutas. Sendo assim, ao argumentar isso, evidencia-se
o desafio epistemológico de combater certos fundamentalismos presente no
pensamento, para isso ocorrer e necessário realizar um processo investigativo
radical de pensar e desconstruir para questionar como fora criado aquela
persona.
Retiramos para observar do
homem as experiências que fazem o ser. Entretanto, o que seriam essas experiências?
Podemos dizer que são as experiências sociais e culturais, pois, estas agem
como sendo um processo de formação do indivíduo, assim criando uma espécie de “hábito
comportamental” que defina de certa forma a maneira de agir, e definir o
“homem”. De certa maneira, é perceptível que há uma relação parecida entre a
filosofia e o senso comum como foi apresentado antes, isto é, que estes tem as
experiências sociais como algo que os explique, porém a filosofia é racional e
sistemática, pois, ela organiza conceitos baseado na razão e investiga estes
hábitos comportamentais. Portanto, foi de certa maneira o que fizemos aqui
quando foi realizado o processo de “desconstrução” do ser, pois, nessa situação
foi necessário uma base de pesquisa para sustentar a minha argumentação e fugir
o máximo que posso do “achismo”.
Para explorar melhor este assunto sobre o que
é ser homem, por exemplo, podemos ter como ponto de partida as reflexões da
filósofa pós-estruturalista Judith Butler (1956), onde a sua forma de pensar
leva a dizer que ser homem seria o efeito de afirmações e atos repetidos cotidianamente,
dando a ilusão de uma identidade fixa, ou seja, é presumível que seja um erro ao
pensarmos que o homem ou a mulher como sendo uma identidade comum e universal, ou
seja, que essa identidade age se comporta do mesmo modo nas diferentes culturas
e sistemas político. O psicanalista Pedro Ambra também explora isso, mostrando
que os homens da modernidade ainda são assombrados por um passado viril, mesmo
este não tendo existido de fato, ou seja, são produzidas subjetividades dispostas
a sustentar um ideal vazio para limitar o próprio futuro incerto, isto é, são
maneiras dispostas no campo das fantasias que regulam o mito e a ilusão de uma
masculinidade viril, e ao nos aproximarmos de dados históricos, verificamos que
esse passado mítico e ideal vai ficando cada vez mais rarefeito. Sendo assim,
na visão desses pensadores, há uma diferença entre o sexo natural e gênero como
sendo uma construção cultural, ou seja, ser homem é uma construção afirmativa
de conceitos e ações que são espalhados pela cultura e, aliás, por que não
dizer que são ideias espalhadas pelo senso comum? Entretanto, isto é suficiente
para o conhecimento filosófico? É possível saciar a curiosidade com apenas
isso? Pode haver algo que vá além e que possa contribuir ainda mais com esta
discussão, ou até mesmo contrapor esta ideia apresentada aqui sobre ser homem?
Ter esta dúvida acerca das próprias certezas faz estender ainda mais a
discussão, assim como fizera o filósofo Sócrates com sua maiêutica, que é trabalhar
insistentemente em uma temática até chegar o ponto de “parir" o conhecimento,
desse jeito podemos dizer que uma conversa socrática pode se estender por muito
tempo, pois nosso conhecimento filosófico não é verificável, é apenas valorativo,
e sempre voltaremos a dúvida inicial em algum
momento da vida, pois estamos sempre nessa eterna busca de compreensão da
realidade, e essa prática reflete verdadeiramente essencial para a vida humana,
e é como disse Aristóteles no início do livro da Metafísica: “Todos os homens,
por natureza, anseiam o conhecimento". Sendo assim, vamos
acrescentar mais detalhes a pergunta para estender a discussão, assim como fazia
Sócrates: “qual é o princípio universal que marca o processo de tornar-se
homem?” Há um aspecto em comum na forma de cada homem se relacionar, ser e
agir, dependendo das distintas formações culturais, posições políticas e
condições econômicas, se é progressista ou conservador? É possível encontrar
uma unidade primordial e universal que possa definir o que seja ser homem, isto
é, que esteja além da subjetividade plural? Por que até agora é mais
perceptível uma mudança de agir dependendo do convívio social.
É de se admitir que encontrar uma definição
ideal e universal platônica é uma tarefa muito árdua para se compreender o
gênero e o ser. É de se pensar também que o próprio ser é o mesmo que nada,
quando se é visto além da forma; portanto, para esta forma, ou persona, se vê a
necessidade de construir o seu próprio “eu”, pois sob o escrutínio do
pensamento filosófico, não é possível detectar, ou determinar com absoluta
clareza e distinção o que seria realmente esse “eu”. O filósofo e matemático
francês, Blaise Pascal (1623 – 1662), diz que resta ao homem então inventar o
próprio “eu”. Esse eu vai sendo inventado de três maneiras: o eu para si; o eu
para os outros; e o eu que o homem acredita ser diante do que os outros percebem
ou pensam sobre ele. Portanto, é perceptível e mais fácil de se analisar a subjetividade
que há na maneira de agir do homem tanto ligado a cultura à cultura como também
na sua própria criação do “eu”. Sendo, assim é mais desafiador para a pesquisa filosófica
encontrar uma unidade ideal que possa definir o que seja o “eu" ou o que seja
“ser homem” sem cair na outra áreas do conhecimento, como o cientificismo, por exemplo,
e este conhecimento já tem uma base sólida para explicar a segunda definição.
Entrentanto, voltemos mais uma vez a nossa dúvida: é possível encontrar a
unidade que defina ser homem por meio da filosofia? Talvez, mas não é a
proposta principal desse texto, ou seja, não há pretensão de se aprofundar nesse
tema porque esse texto é somente uma maneira de expor o conhecimento filosófico
aplicado a pesquisa.
Referências:
AMBRA, Pedro (2019). Do mito aos horizontes de desconstrução.
Cult, São Paulo, ano 2022, n. 242, p. 17-19, fev. (Dossiê Cartografias da
masculinidade).
BAUBÉROT, Arnaud (2013). A Fábrica da virilidade. In: CORBIN,
Alan; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (Dir.). História da
virilidade: 3. A virilidade em crise?. Tradução de Noéli Correia de Mello
Sobrinho e Thiago de abreu e Lima Florêncio. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. p.
185-238.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de
Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2003.
MONTOVANI, Ricardo Vinicius Ibañez (2017). 10 Lições sobre Pascal.
Editora Vozes; 1. edição. Pág. 92, oitava lição, O eu.
NASCIMENTO, Evandro (org.) Jacques Derrida – Pensar a desconstrução.
São Paulo: Estação Liberdade, 2005. RECEBIDO.
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