Mercado da arte: Cultura e Consumismo
Mercado da arte: cultura e consumismo
Por Janilson Fialho
No final do século
XIX e início do século XX, surgiu um debate interessante entre os intelectuais
sobre o que as classes mais baixas estavam produzindo e consumindo
culturalmente, e aqui estou me referindo a uma sociedade que já estava vivendo
os efeitos da revolução industrial, portanto há uma classe proletária que tinha
uma vivência cultural diferente da elite, essa última que de certa forma
aprisionava as artes em seu restrito círculo, nesse contexto começam a surgir
os novos meios de entretenimento, como o cinema e o rádio, sendo meios
midiáticos que se sustentam atingindo um grande público. Portanto, foi nesse
momento que começa a serialização em massa de produtos; o capitalismo já faz
você pensar o tempo todo como um simples consumidor compulsivo, veja, o capital
serializou a arte como um mero produto de consumo e de descarte rápido.
Um bom exemplo é o
mercado das artes plásticas, que se apropriam das obras e fazem delas
mercadorias de um valor descabido. Provavelmente, muitos artistas que criaram tais
obras nunca tiveram acesso a esses valores exorbitantes. O ponto para mim, é
que a obra de arte vale mais depois que o artista morre, são pouquíssimos os
artistas que em vida conseguem vender ou faturar algum valor expressivo. A
maioria dos artistas nunca desfrutaram do valor de sua arte em vida.
Os
mecanismos do capital engendram a sociedade de uma forma que a cultura passou a
ser um produto feito para ser consumido rapidamente, e nem todos tem direito a
uma fatia desse bolo, muito da cultura é somente consumida por uma classe
média, ou pior, é feita e servida por uma elite, pois esta é quem controla a
indústria e o estado burguês. Um bom exemplo é o futebol, houve uma mudança ao
longo do tempo sobre quem frequenta os campos de futebol, antes não existia uma
arena monumental que dificultasse o acesso das camadas mais pobres de ir aos
jogos, veja que por isso ele se tornou um esporte tão famoso no Brasil; porém,
o que era antes um espetáculo do povo em geral, hoje passou por uma readequação
desses espaços, isso simplesmente para tirar da classe pobre trabalhadora o
direito a frequentar esse divertimento, e no seu lugar foi colocado uma classe
média abastarda no estádio. Entenda, você pode me contrapor, e se julgar pobre e
afirmar que consegue frequentar um estádio de futebol, casas de show, ou
algum museu, mas já pensou que esses lugares também tem um planejamento
financeiro para que o seu orçamento não o permita a ter acesso com tanta
facilidade? E eu nem quero entrar no campo das exceções nessa discussão como,
por exemplo, alguma iniciativa que leve cultura as pessoas carentes, afinal,
isso é apenas uma exceção, algo que foge da regra, e a regra para o acesso à
cultura é uma só: A elite mantém castas sociais, e com elas determinam o que
você pode ou não ter acesso.
A
elite que manda no mercado sempre se apropriou da arte, ou cultura popular, das
camadas mais pobres da sociedade, mas passando nela primeiramente um verniz de
rusticidade, para assim colocá-la exposta e isolada no próprio meio social
burguês. Sempre a elite prendeu a arte, só que hoje podemos ter acesso a ela, e
com mais facilidade, porém, não como arte propriamente dita, mas sim como um
produto embalado com um código de barra.
A
arte massificada e plastificada é igual uma simples peça seguindo pela esteira
da fábrica e chegando para todas as pessoas que estão sempre com pressa. A
cultura massificada é mascavel igual um chiclete, cujo sabor desaparece em
questão de minutos. Tudo segue um esquema de acordo com a máquina da indústria,
e aproveitando o tema para usar um termo de T. Adorno: Indústria Cultural.
Portanto, cabe dizer que a visão crítica sobre a Indústria Cultural, gira em
torno da serialismo da arte como produto, e assim também, há nessa crítica um
dos conceitos de Marx, sendo sobre o feitchismo da mercadoria, ou seja, criar
afeto pelos produtos que estão a venda; isso também se relaciona justamente ao
apontar que a indústria cultural tem como base produzir uma sociedade do
espetáculo, cuja intenção é manipular e manter o controle sobre a massa por
meio de produtos vendidos como arte.
Toda essa plasticidade é para atender os
desejos de milhões de pessoas consumidoras, e a plasticidade contém recursos
para atender melhor a sua necessidade e as expectativas na hora de comprar,
tanto para aqueles sendo ociosos, como também para aqueles que tem pressa.
Acredite, você sabia que existem pessoas que assistem séries e filmes
acelerando os minutos para acabar mais rápido? A necessidade de consumir superou
o prazer do momento, o indivíduo que faz isso simplesmente o faz para colocar
nos status, ou lista pessoal, que assistiu tal obra, e faz tal coisa, como se
fosse uma meta a ser atingida, faz isso quase que obrigado para não perder o
momento em que todos estão falando sobre tal obra nas redes sociais. Com isso,
acrescento aqui, que na maior parte do tempo somos condicionados a viver no que
já foi apresentado antes, sendo o "Piloto automático", ou seja, a
capacidade que o cérebro tem de realizar tarefas mecânicas e repetitivas sem
prestar atenção nelas, e as empresas se aproveitam dessa característica para
nos tornarem mais funcionais como consumidores, ou melhor, nos tornarem
parecidos com máquinas, ligados e programados para consumir, sem parar, ligados
o tempo todo na necessidade de consumir, mas sem julgar nada e nem prestar
atenção ao nosso redor. Com isso, banalizamos a arte como apenas um objeto de
segundo plano ao ponto de esquecermos dela como um conceito próprio, esquecemos
de sua finalidade, ou simplesmente não sentimos mais nada por ela, pois ela
agora é só mais um produto que serve apenas para saciar o desejo; fazemos isso
com as artes cênicas, com as pinturas, ou até mesmo usamos uma música como
plano de fundo para fazer uma outra atividade, pois não há tempo para prestar
atenção nela.
Nosso cérebro já não consegue mais processar
tantas imagens, musicas e vídeos. A internet está deixando o consumo mais
rápido e frenético, além de repetitivo, segurando você eternamente nas redes
sociais por um falso conformismo de estar rolando o feed da plataforma em busca
de prazer.
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