A essência morfológica no capitalismo, Por Janilson Fialho

A essência morfológica no capitalismo, Por Janilson Fialho

   Há Alguns dias eu estava conversando com o meu aluno de violão sobre alguns assuntos para além da música, estávamos falando sobre Paulo Freire e chegamos sobre o meio sócio-cultural, e nisso ele falou algo interessante sobre morfologia, isto é, o estudo da forma, que tem tudo a ver sobre o que estávamos conversando. Para completar o que eu disse na conversa, utilizei o exemplo dele para dizer que a nossa forma de viver é moldada para sermos contra, por exemplo, o comunismo, e aqui nesse texto irei desenvolver melhor o meu raciocínio sobre o exemplo.

   Se a morfologia é o estudo da forma, contudo, a forma sendo uma configuração da aparência externa da matéria para dentro do ser, isto é, levando isso em conta que o meio sensível externo é onde o capital reina como doutrina e é espalhado através das sedutoras propagandas estéticas, ou seja, ele vai moldando os pensamentos e o caráter do indivíduo desde cedo. Assim acreditamos que a ideologia dominante do nosso país, que no caso é o capitalismo com toda a sua estrutura de desigualdade e exploração, seja necessariamente importante para a nossa vida, por isso nós não conseguimos pensar em uma maneira de viver sem ele, ou até de corrigir as suas mazelas por causa da sua doutrina essencialista para a vida.


   Um ponto interessante para pensarmos e observarmos como exemplo de morfologia, é o caráter essencial e materialista do comunismo. Com isso, percebemos que o comunismo sendo ele materialista é também mais plural e de fácil adaptação ao meio sócio-cultural de determinado país. Veja que estamos falando de comunismos, bem no plural, pois, para além do comunismo clássico proposto por Marx, há leituras que se fazem dele que podem ramificar para novas interpretações (até mesmo equivocadas), e com isso abrindo margem para aderir a novas pautas; cabe dizer que esquerda e marxismo são propostas que tem um pouco em comum olhando de longe, mas ao se fazer uma análise mais apurada percebe-se as diferenças, entretanto, fazendo um apanhando como um todo da esquerda, é notório que a esquerda japonesa é diferente da esquerda norte-americana, que também difere da esquerda brasileira. Cada país segue os pensamentos de Marx, mas tem o fator sócio-cultural que modifica e atualiza os pensamentos, ou seja, por ser materialista o caráter morfológico se faz presente na pluralidade da esquerda para se adequar mais facilmente as discussões e lutas sociais de determinado país.

   Outro ponto a ser visto aqui é a ideologia política fascista, ele se encaixa aqui também nessa discussão morfológica do ser, e aqui adianto que ela é uma ideologia parasitária, ou seja, posso dizer que ela se apodera e distorce os ideais dos indivíduos de diferentes classes sociais, pois, ele se adapta com facilidade a massa social local, como também se adapta ao conservadorismo local, cujo propósito é transformar as pessoas em chauvinistas reacionários. O conservadorismo é um campo perfeito usado pelos fascistas, pois nele está o saudosismo idealizado ao passado; sendo assim, o conservadorismo é usado pelos fascistas para moldar, ou configurar, os indivíduos por meio de um passado idealizado, isto é, um passado baseado em um puro desejo de nostalgia individualista que provavelmente não está de acordo com fatos históricos. Assim, ao vermos os diferentes fascismos, como Integralismo, Fascismo Italiano e nazismo, eles concordarão com as características sociais de cada país, porque foi moldado e adaptado morfologicamente para se encaixar no idealismo e no caráter do ser, portanto, o fascismo procura perfis que pregue um idealismo coletivo conservador, que sejam chauvinistas, e além de defender o capitalismo.

   Contudo, vejo na concepção ideológica do capitalismo uma morfologia enraizada em uma pura formação idealista e estética como desejo de viver do indivíduo, sendo ela sustentada pela emoção, e essa emoção tem como base o medo de perder o desejo estético consumista, pois hoje não se sabe o que é ser cidadão ou consumidor, portanto, quando falamos de mudar o capitalismo ou até mesmo de acabar com ele, o indivíduo que vive inserido nele não age de forma racional sobre o assunto, mas sim de forma emocional e fatalista, pois o indivíduo nesse sistema não quer mudar a sua essência vital por medo. Cabe dizer que o capitalismo também é uma ideologia parasitária igual o fascismo, e faço essa comparação por ver que ambas se agarram a um idealismo individual, além do conservadorismo perante a mudança; e assim com essa visão de ideologia parasitária, é perceptível que o capitalismo pode se adequar a qualquer pauta social, e com isso vemos que ela sequestrou as pautas sociais que estão em discussão no momento; contudo, o capitalismo não se desprende do seu caráter morfológico, ou seja, ela sequestra e transforma a pauta social em uma mera casca, e dentro dessa casca está o idealismo estético e o desejo consumista, além da ideologia neoliberal que atende os interesses das classes dominantes, e no mais, ela se apodera do discurso progressista para simplesmente expandir o seu controle emocional acima da razão do público consumidor, contudo, é passar adiante a essência social fatalista e imobilizante.

   Nossa essência morfológica é formada nesse sistema a vivermos através da satisfação emocional supérflua, como, por exemplo, usarmos uma blusa com determinada estampa de uma marca, porém, usamos a blusa não pela necessidade, mas sim pela satisfação de ostentar a marca da blusa. É dessa maneira de viver sob a satisfação que não pensamos em uma maneira de desprendimento do capitalismo, portanto, insisto em falar que nessa ideologia o sujeito define sua cidadania de maneira a ser pautado pelo simples e superficial desejo satisfatório de consumir para assim criar a própria noção de existência, isto é, o indivíduo tem medo de perder esse sistema porque não quer perder aquilo que constitua a sua aparência, ou melhor, do que ele denomina como sendo o seu ser.

Texto escrito no dia 02/08/2022

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