Comentário sobre a Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire - por Janilson Fialho
Comentário sobre a “Pedagogia da
Autonomia”, de Paulo Freire — por Janilson Fialho*
O
educador Paulo Freire foi considerado uma figura de grande importância na área
da pedagogia no Brasil e em alguns países dos cinco continentes, como por exemplo:
Chile, Tanzânia, Austrália, Suíça e Estados Unidos. Sendo ele o terceiro autor
mais citado em pesquisas, e com o seu método estudado nas mais respeitadas
universidades ao redor do mundo, como por exemplo a universidade de Harvard.
Mas infelizmente, ele foi considerado por seus opositores como
sendo um pensador perigoso, pois na sua teoria está a
seguinte idéia, que a educação tem lado, isto é, que não há como realizar
uma educação neutra, porque ela está em uma sociedade com interesses
diversos. Se este é o pensamento de Paulo Freire, então por que, e
principalmente, quem são as pessoas que o odeiam?
O
filósofo Mário Sérgio Cortella diz que Paulo Freire jamais seria
contra que alguém contra ele fosse, o que ele seria contra, era se alguém não
pudesse ser contra ele. Visto assim, ele não parece ser uma figura perversa, ou
que prega uma ideologia malvada, como dizem os detratores de sua imagem; mas
vamos além, vamos analisar o seguinte ponto na obra dele,
na seguinte obra, a Pedagogia da Autonomia, logo no início, o autor
apresenta que o livro carrega uma visão otimista para a educação,
assim ele descreve: "Este livro é
um livro esperançoso, um livro otimista, mas não
ingenuamente construído de otimismo falso e de esperança vã”.
A pedagogia
da autonomia de Paulo Freire é uma reflexão sobre a prática educativa e
progressiva a favor da autonomia do ser, entretanto,
a autonomia que o autor fala não pode ser confundida com o discurso
neo-liberal, mas por que ambas as autonomias não podem ser confundidas? Porque
o discurso neo-liberal possui uma prática individualista e competitiva, assim
Freire expõe o pensamento neo-liberal: “Com ares de Pós-modernidade, (o
neo-liberal) insiste em convencermos de que nada podemos contra a realidade social
que, histórica e cultural, passa a ser ou virar-quase-natural”. Ao expor esse
pensamento, o autor em seguida demonstra a sua visão crítica contra ao que ele
chama de discurso fatalista, ou seja, que aceita as injustiças como sendo algo
natural, e veja que nele está presente as típicas frases de que “a realidade é
assim mesmo, que podemos fazer?”, essa é uma frase comum que expressa
a impotência que foi imposta no imaginário social. Expressar esse discurso
imobilizador é uma forma de expor a própria corrente de servidão voluntária, é
querer permanecer para sempre onde fora colocado socialmente. Portanto, é aqui
que a pedagogia autônoma de Paulo Freire se diferencia ao ter como meta a
solidariedade como compromisso fundamental e ética do ser humano, no respeito à
dignidade e a própria autonomia do ser.
O autor diz na sua
obra que há uma maneira de mudar a realidade social, e é através de uma nova
prática pedagógica, mas como seria isso? Primeiramente, o processo educativo
não pode ser o que ele chama de “Educação bancária”, ou seja, apenas um
“Transferir conhecimento”, e para ser ainda mais específico, é a educação aplicada
por fórmulas e repetições exaustivas, cujo propósito é apenas decorar e
nada mais, e tendo em vista esse modelo, fazemos a seguinte pergunta:
Qual a finalidade de aprender isso? Ou por que estou aprendendo
isso? Sobre essa forma de se aprender e de se educar, que se estabeleceu a
mentalidade do professor pensar com um sentimento de superioridade, de simplesmente pensar que
todo aluno é burro e que apenas ele é o detentor do conhecimento. Assim, a aula
acaba por se tornar apenas uma maneira superficial de decorar fórmulas,
conteúdos, nomes e datas, cuja finalidade seja a de reproduzir exatamente o que
é dito, e que, portanto, seguindo essa concepção, a função do aluno em sala
de aula é de apenas permanecer sentado, calado, enquanto
o professor transmite o seu conhecimento. Essa descrição patética traz a
memória o videoclipe da música Another Brick in the Wall,
da fantástica banda britânica
de rock progressivo Pink Floyd. A música do
álbum The Wall é uma crítica ao sistema educacional britânico (mas
esse modelo de educação positivista também opera no Brasil e em outros países),
considerado opressivo, reacionário e conservador. A letra da música, e
principalmente o videoclipe, mostra uma educação rígida, imóvel e repressora,
que tortura e espreme os alunos, os moldando para se tornarem apenas tijolos na
parede; e estes cansados, para por um fim a esse modelo educacional, cantam a famosa
frase: “Hey, teacher! leave them kids alone!” (Ei,
Professores! Deixe as crianças em paz!)
A educação não pode ser apenas a de
“minhas idéias valem mais que às suas idéias”, isso extingue o
debate e acaba por transformar a autoridade do professor em autoritarismo, e ao
fazer isto, acaba esquecendo-se de que não há apenas um saber, e
segundo Paulo Freire: “Não há saber mais ou saber menos: há
saberes diferentes”, ou seja, que é nessa experiência de reciprocidade de ouvir
o que o outro tem a dizer, que surge os saberes entre professor e
aluno, e é assim que a aprendizagem se dá de forma consciente, porque ambos
trocam conhecimento. Diferentemente é o acontece no caso de quem segue
a idéia de imposição do saber, veja que a educação brasileira de uns
tempos para cá, pode acabar (ou já está) voltando a seguir modelos educacionais
retrógrados, ou ainda mais arcaicos, quem sabe o uso da violência volte, não
a muito do que se duvidar disso quando se olha para o atual governo,
pois, este com projetos absurdos, como "Escola sem Partido", por
exemplo, ou até às escolas técnicas, visa que a educação se torne
apenas um depositário automático de conteúdo.
A relação do aluno e professor nessa concepção
de ensino decorativo, é de professor perguntar
e aluno responder rápido, isso acaba por gerar uma falta de diálogo,
imagine então que essa situação fria e mecânica leve o professor nem
mesmo a saber o nome do aluno, se ele não sabe, se não tem
conhecimento e nem contato com o aluno para saber pelo
menos o nome, quem dirá então que esse professor terá alguma
capacidade de ensinar algo para ele. De nada adianta um discurso competente que
contenha várias fórmulas se a pedagogia é impermeável a mudança, mas que tipo
de mudança? O discurso deve se adequar a realidade social do educando,
este é o fator principal na Pedagogia freiriana. Sua visão para a educação tem
como principal exigência o seguinte, que ela seja criteriosa e que aborde
também às questões do dia a dia, que o professor constitua na sala de aula um
ambiente que leve o aluno ao debate, que o faça instigar
por questões sobre o cenário social atual. Quando se passa
a enxergar a realidade com olhos criteriosos, figuras reacionárias que trazem
na face o autoritarismo, e que se mantém no poder com a desigualdade social põe
para fora toda a selvageria que outrora escondia com tanta polidez para
reprimir o levante da sociedade, são os ditos críticos de Paulo
Freire que tem medo do questionamento, pois a vida deles é dependente da
estrutura social sustentada e privilegiada pela desigualdade.
Portanto, Paulo Freire propõe em sua obra uma
pedagogia consciente, que sirva para construir um ambiente de respeito e
dignidade com o aluno, assim, propondo também uma nova postura que o educador
deve adotar em sala de aula, cuja finalipdade seja desmistificar a figura do
"professor carrasco", contudo, rompendo concepções e práticas que
negam a compreensão da educação.
*Janilson Fialho, estudante de Filosofia (P1), texto escrito
no dia 07 de Julho de 2022
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