Entre Ícones e Simulacros: A Estética dos Influenciadores nas Redes Sociais
Por Janilson Fialho
Vivemos em uma era saturada por imagens. O excesso de visibilidade transformou a maneira como nos relacionamos com a realidade, especialmente no ambiente digital. Podemos dizer que estamos aprisionados em uma caverna digital — tomo a alegoria de Platão como referência —, onde as sombras dos conteúdos publicados são as nossas referências da realidade. Todavia, o movimento artístico da Pop Arte, especialmente a obra de Andy Warhol, nos oferece uma perspectiva bastante reveladora para compreendermos o atual fenômeno dos condutores dos objetos que produzem as sombras na caverna digital, isto é, entender os influenciadores digitais.
Andy Warhol utilizou a serigrafia para produzir várias obras utilizando rostos famosos como o de Marilyn Monroe, Elvis Presley, Pelé, etc. Warhol capturou em sua arte a repetição mecânica de imagens de celebridades esvaziando-as de singularidade para expor sua "artificialidade". Tal como as serigrafias de Warhol, os influenciadores de hoje são ícones reproduzidos incessantemente em nossos feeds, cuja imagem, embora intensamente familiar, nos escapa em profundidade.
A indústria cultural "criou" a imagem do ícone artístico. Tomemos o caso de Marilyn Monroe como exemplo. Ela era uma figura extremamente popular no século XX, mas quantas pessoas realmente a conheceram de fato? A imagem que o público consumia era uma construção da mídia, moldada pelos estúdios, pela publicidade e pelas estratégias de marketing. A celebridade se tornava, assim, uma máscara, um produto. O que se conhecia não era a pessoa real, mas uma representação dela — um imaginário coletivo fabricado.
Portanto, por mais que vejamos inúmeras fotos, filmes, entrevistas ou reportagens sobre Marilyn Monroe, jamais acessaremos sua essência verdadeira. No máximo, teremos contato com a imagem fabricada que a mídia nos ofereceu. O ícone, nesse sentido, representa um simulacro: uma aparência que esconde a ausência de verdade.
Essa lógica é radicalmente atualizada nas redes sociais, onde influenciadores se tornam figuras hiperexpostas, multiplicadas em vídeos, stories, publicações patrocinadas e conteúdos virais. No entanto, essa presença ostensiva raramente permite acesso ao sujeito por trás da imagem. O que vemos é uma construção estética, cuidadosamente editada, que responde aos algoritmos e às expectativas do público — uma performance de si.
Assim como Warhol repetia a mesma imagem em cores diferentes, os influenciadores reciclam diariamente variações de si mesmos: a mesma pose, o mesmo filtro, o mesmo discurso de autenticidade — mas tudo cuidadosamente curado para parecer espontâneo. Esse processo gera, como já afirmamos anteriormente, um simulacro da aparência: uma cópia sem original, um real que se dissolve na reprodução incessante de sua aparência.
Não se trata apenas de um problema de representação, mas de um esvaziamento da experiência. Quando tudo se torna imagem, o real é colonizado por sua encenação. O que seguimos não são pessoas, mas marcas pessoais. A intimidade é espetacularizada. A dor é performada. A felicidade é monetizada. A imagem do influenciador é um produto moldado para o consumo afetivo dos seguidores, que se identificam não com uma pessoa, mas com um ideal projetado.
Nesse sentido, os influenciadores digitais não são apenas figuras públicas, mas ícones de um imaginário coletivo que confunde aparência e verdade. Por mais que os vejamos todos os dias, jamais os conhecemos de fato. Seguimos suas rotinas, assistimos seus vídeos, comentamos suas postagens — mas aquilo que conhecemos é apenas o que nos é permitido conhecer. Assim como com Marilyn Monroe na era da Pop Arte, estamos diante de uma presença que nos afasta da essência (ou pelo menos daquilo que é mais próximo da realidade) e nos aprisiona na superfície.
A estética/ética dos influenciadores é, portanto, uma estética/ética do simulacro. E talvez o mais inquietante seja o fato de que não nos incomodamos com isso. Aprendemos a desejar a imagem, a admirar o que é editado, a nos emocionar com o que é encenado. A imagem triunfa sobre o real, e nós nos tornamos espectadores anestesiados, como Warhol havia previsto.
Nesse cenário, o desafio filosófico é recuperar o sentido do sujeito para além da performance, repensar a ética da exposição e resistir à fetichização da imagem. Mas, o que ainda resiste à captura da câmera? Talvez aí esteja a última forma de liberdade — naquilo que permanece invisível.
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