Exortações para os Iniciados em Música (I, §3), por Janilson Fialho
§3 - Sobre o tempo de estudo
Qual é o tempo necessário para dominar uma técnica musical? Eis uma questão interessante e complicada de apontar uma resposta satisfatória, porque ela não tem um fundamento tão simples, isto é, não temos como apontar uma solução prática idealista, ao contrário, a resposta deve ser realista — e a realidade, meu caro estudante, pode ser um tanto decepcionante as vezes.
Nossa pergunta pode se deparar com diversas realidades. Um violinista, por exemplo, pode levar meses para perfeccionar uma sonata de Mozart, enquanto outro pode precisar de anos para dominar a técnica do vibrato. Deste modo, pergunto o seguinte: há, como diz o sábio profeta, um tempo certo para isso? Além disso, será que nossa sociedade da aceleração e do prazo permite que os músicos tenham o tempo necessário para desenvolver suas habilidades?
Sobre a aparente relatividade que está no exemplo — a comparação entre os violinistas —, podemos dizer, de acordo com o especialista que citei em outro artigo (Cf. A partilha da experiência e do saber: sobre o violão clássico, III, §3), que a quantidade de horas praticadas por dia não é um fator essencial para se evoluir como músico, seja ele profissional ou amador. Essa ideia refuta a famosa "teoria das 10 mil horas". O autor dessa tese, que, aliás, torno a dizer, é um músico, defende que o estudante deve praticar independentemente do tempo que for, desde que faça com plena atenção. Contudo, apenas pegar no instrumento musical para ficar tocando de qualquer jeito só para cumprir uma determinada carga horária é uma perda de tempo.
O especialista que citei (Cf. III, §4) ainda diz que: "A prática desatenta torna mais difícil corrigir esses hábitos no futuro — você está efetivamente adicionando uma quantidade de tempo de prática futura que você precisará para eliminar esses maus hábitos e tendências". Volto a mencionar a relatividade temporal do estudo, porque isso determina o resultado, e pensando no que o meu professor me ensinou: se o músico estuda 4 horas por dia sem consciência, desatento ou sem uma metodologia, ele pode muito bem estar consolidando o erro no aprendizado, enquanto que um estudo de 15 minutos com consciência, atenção e metodologia pode garantir um resultado positivo e pode conduzi-lo a tocar em um alto nível.
É certo que o tempo necessário para o desenvolvimento das habilidades está numa esfera individualista, ou seja, depende de uma variedade de fatores particulares, tais como a dedicação, a motivação, a qualidade da instrução e a própria capacidade natural do indivíduo. No entanto, posso apresentar certos fatores de ordem social e material que podem contribuir para que determinadas pessoas atrasem no aprendizado.
Pensando a partir do ponto de vista materialista, o tempo necessário para o desenvolvimento das habilidades musicais é determinado pelas condições materiais, isto é, a qualidade do instrumento é um fator crucial, afinal, um instrumento defeituoso pode apresentar impedimentos que travam o desenvolvimento; a falta de acesso a instrução e recursos, como aulas e material didático é um impedimento para obter informações teórica; e a falta de tempo disponível para a prática, é, certamente, um o principal fator que impede o aprendizado, visto que estudar música requer prática com o instrumento, se o estudante não tem muito tempo para estudar, logo ele vai demorar mais tempo para aprender. Para esse problema, digo que a solução deve vim do Estado, porque ele é o único capaz de mudar a realidade com políticas públicas que podem proporcionar acessibilidade aos menos favorecidos a capacidade de estudar música.
Agora, partindo para outro problema social, falarei da nossa sociedade da aceleração e do cumprimento de prazos. Essa nova ordem social está criando obstáculos para que os músicos não tenham o tempo necessário para desenvolver suas habilidades com paciência. A pressão para produzir resultados rápidos e a competição por recursos e oportunidades podem levar a uma abordagem superficial e apressada da prática musical, em detrimento da qualidade e da profundidade. Além disso, a cultura da velocidade e da eficiência pode levar a uma visão distorcida do tempo e do desenvolvimento das habilidades musicais. Em vez de valorizar a prática musical como um processo lento e gradual, apenas nos concentramos em resultados rápidos e em demonstrações de habilidade técnica.
É importante que os músicos e a sociedade como um todo valorizem a prática musical como um processo que requer muito tempo, dedicação e recursos adequados. Isso pode envolver a criação de espaços e oportunidades para que os músicos possam se desenvolver de forma gradual e orgânica, sem a pressão de produzir resultados.
Contudo, aconselho o seguinte: Seja paciente, porque o desenvolvimento das habilidades musicais leva tempo — ou não — para desabrochar, mas o mais importante aqui é a dedicação de praticar o instrumento constantemente. Aliás, não se desespere se não vê resultados imediatos, queira apenas aproveitar o processo de aprendizagem. O essencial do aprendizado é valorizar o processo⁵ em si mesmo, ao invés de se concentrar apenas nos resultados que estão distante. Busque priorizar a qualidade da sua prática e do seu desenvolvimento. Aprenda a gerenciar o seu tempo de forma eficaz, priorizando as suas habilidades musicais.
Além disso, considero necessário um estudo técnico devagar, porque esse tempo é essencial para fixar o aprendizado na memória, portanto, faça repetições sem pressa e com consciência das passagens marcadas, principalmente aquelas em que o músico mais sente dificuldade. A repetição é importante, porém, como já disse, ela deve ter o máximo possível de consciência do que se está fazendo, pois, podemos repetir o erro durante muito tempo, e isso será com certeza uma perda de tempo (Cf. III, §7).
Por fim, repassarei para ti, nobre estudante, o conselho de meu professor de violão sobre o tempo de estudo: mais vale 15 minutos de estudando de maneira consistente, concentrado, focado em sua atividade, do que 4 horas estudando técnica estando disperso de sua atividade, ou seja, semprestar atenção ou sem foco em sua atividade; estudar no "piloto automático" é uma perda de tempo, por outro lado, ter foco no estudo torna o tempo mais proveitoso, com mais rendimento e progresso, além de possibilitar a capacidade de economizar tempo. Reflita essa máxima: "O talento nada mais é que um interesse continuado." (Cf. III, §6).
Comentários
Postar um comentário