Comentário sobre as cinco vias de São Tomás de Aquino que provam a existência de Deus

Comentário sobre as cinco vias de São Tomás de Aquino que provam a existência de Deus

Por Janilson Fialho

São Tomás de Aquino na sua grande obra “Suma Teológica” utiliza cinco vias para provar a existência de Deus por meio do conhecimento e da observação do mundo físico. Assim veremos quais são essas vias, como também iremos tentar apontar uma conexão em cada uma delas.

A primeira via é a do movimento. São Tomás constata que algumas coisas neste mundo se movem, e para se moverem elas precisam ser movidas por outra coisa. Nessa via ele especifica bem o que é o ato e a potência e porque eles são importantes para realizar a mudança do movimento, afirmando que apenas algo que está em potência em relação ao movimento pode se transformar. Por exemplo, aquilo que é quente em ato não pode ser ao mesmo tempo quente em potência, porque ele já é quente em ato, no entanto, este que é quente atualmente é ao mesmo tempo frio em potência. Portanto, é impossível que, sob o mesmo aspecto, uma coisa seja ao mesmo tempo movente e movida, isto é, que mova a si mesma. Para tal coisa mostra-se necessário que tudo aquilo que se move é movido por outro, e mais ainda, este outro é movido também, isto ele, ele é também sujeito ao movimento, portanto, precisa que seja movido por outro ser, portanto, é necessário chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum outro; e Tomás conclui esta via afirmando que este primeiro motor é Deus.

A segunda via é a da causa eficiente. Nesta via, Tomás de Aquino diz que no mundo sensível existe uma ordem entre as causas eficientes. No entanto, tal ordem não é causa eficiente de si mesma, afinal, esta coisa existiria antes de si mesma, e isto é absurdo. Assim, todas as causas eficientes se relacionam com a primeira causa. Contudo, essa primeira Causa é, para Tomás de Aquino, Deus. Portanto, Deus é a causa primeira e eficiente de todas as coisas que existem.

A partir de agora já é possível com a apresentação dessas duas vias uma análise e comparação com as demais e como elas todas explicam a causa primordial para além das causas intermediárias que observamos no mundo sensível.

Temos agora a terceira via, ou melhor, a via da contingência, ou a do possível e do necessário. Tal via diz que entre as coisas encontramos as que podem existir e não existir, ou ainda, algumas coisas nascem e terminam. Sobre isso Tomás afirma que é impossível que todas as coisas da natureza tenham sempre existido, porque aquilo que pode não existir, não pode existir em dado momento da realidade. Portanto, Tomás resolve isso dizendo que aquilo que não existe, não começa a existir a não ser por alguma coisa que já existia antes. Pois, como foi dito, se não existia nenhum Ente antes — que estivesse em ato para gerar o movimento —, como seria possível que alguma coisa começasse a existir? Tomás responde isto dizendo que nem todos os seres são contingentes, portanto, é necessário que exista na realidade alguma coisa, ou seja, um Ser necessário.

Desta maneira, é dito — e podemos conferir também na via da causa eficiente — que há seres que tem em sua causa a necessidade em outro ser — tal como é também na via do movimento, pois, vimos que é necessário que tudo aquilo que se move seja movido por outro para existir. Sendo assim, temos nos seres — cuja causa é a sua necessidade — a noção de existência que não pode ser por si necessária, e a existência não se pode proceder ao infinito, assim como é também nas causas eficientes.

Contudo, São Tomás de Aquino termina esta via dizendo que deve existir um ser que seja por si necessário, e que não extraia de outros a própria necessidade, mas seja Ele a causa da necessidade para outros; este Ser necessário para os outros seres é Deus.

A quarta via diz respeito ao fato de que podemos ver nas coisas os graus (maior ou menor) de perfeição. Pode-se então fazer comparações desses graus que serão constatadas a partir de um máximo, porque esse contém o verdadeiro Ser.

Por exemplo, podemos comparar a inteligência humana com a inteligência de um animal, assim podemos perceber que há um certo grau maior de perfeição na inteligência humana; se olharmos só para os seres humanos podemos ver que há alguns que são mais inteligentes que os outros, assim temos mais um grau elevado. No entanto, a inteligência humana não é infinita ou mesmo perfeita em si mesma. Portanto, deve haver um Ser supremo com uma inteligência infinita e perfeita em si mesma.

Contudo, podemos ver que há algo para todos os entes, e que é causa do ser no que diz respeito a qualquer perfeição. Tomás de Aquino dirá que este Ser é chamado de Deus.

Podemos notar que esse percurso dos graus de perfeição sempre visa algo mais elevado, podemos dizer que ele tem uma certa semelhança com as vias da causa necessária e eficiente. Ora, ambas as vias se baseiam em observações do mundo e sua ordem. Elas se baseiam na ideia de que há uma hierarquia de perfeição ou de uma cadeia causal que aponta para a existência de um Ser supremo e necessário. Embora sejam abordagens diferentes, as duas vias convergem para a mesma conclusão: a existência de um Ser divino e perfeito como causa (necessária e eficiente) de tudo o que existe. É praticamente a mesma lógica de observação, ou seja, ao olhar o mundo procuro a causa necessária e eficiente que gerou os seres menos perfeitos, ao fazer isso também posso olhar para esses seres menos perfeitos para ver que há algo mais elevado e perfeito que eles, portanto, que há um Ser mais elevado e perfeito que é a causa necessária e eficiente que gerou esses seres menos perfeitos.

O exemplo — sobre a inteligência — dado nesta quarta via pode ilustrar muito bem a quinta via; afinal, a quinta via fala da questão da ordem e finalidade que a suprema inteligência tem para governar todas as coisas.

Na quinta via, que é conhecida como a "via teleológica" ou a "via do governo do mundo", ela é a via onde se diz que encontramos na natureza coisas sem inteligência, mas que agem em prol de fins. Por exemplo as abelhas que trabalham para produzir mel, mesmo que não tenham uma inteligência igual a do ser humano, elas fazem por causa do seu senso de sobrevivência, e este senso de sobrevivência é designado por sua natureza, mas sua natureza é definida por algo além. Todavia, as coisas sem inteligência não podem funcionar de forma organizada em prol de um fim, a menos que haja uma inteligência superior que esteja dirigindo. Isso nos leva a concluir que deve haver uma Inteligência Suprema por trás de tudo.

Contudo, Tomás dirá que existe algum Ser Inteligente que, a partir do qual, todas as coisas naturais são ordenadas para um fim: e a este ser chamamos Deus.

Dizemos ainda que essa via é baseada na observação de que, por exemplo, os seres inanimados, como os corpos celestes, seguem leis naturais precisas, enquanto os seres vivos possuem estruturas complexas e funções específicas. Podemos ilustrar essa quinta via com um exemplo que também envolve a quarta via. Portanto, imaginemos um jardim — ou uma floresta se preferir — que é bem cuidado, com flores, árvores, arbustos e uma variedade de plantas. Essas plantas exibem uma grande diversidade de formas, cores e fragrâncias, cada uma com sua beleza única. Além do mais, esse jardim é projetado de uma forma bastante harmoniosa, ou seja, com suas plantas organizadas de maneira a criar uma paisagem muito agradável aos olhos.

Vejamos então que nesse exemplo, a quinta via de Tomás Aquino pode nos levar a considerar que a beleza, a ordem e a complexidade do jardim indicam a existência de um Ser inteligente que é o responsável por ser o ordenador da criação do jardim. Ele é o responsável pela variedade de formas e cores das plantas, bem como a harmonia do jardim como sendo um todo, sugerindo um propósito e uma finalidade por trás de sua existência. Isso aponta para a necessidade — podemos também apontar as vias da causa necessária e eficiente aqui — de um Ser inteligente que tenha planejado e organizado o jardim de forma intencional.

Podemos também conectar a quarta e a quinta via com a primeira via para podermos considerar que o movimento observado no mundo físico, por exemplo, o movimento e o crescimento das plantas ou qualquer outra forma de movimento, está inserido em uma ordem e finalidade maior. Por exemplo, o movimento das plantas em direção à luz do sol é essencial para sua sobrevivência e crescimento saudável. Portanto, esse movimento é guiado por uma finalidade.

Contudo, podemos ver que a existência do movimento no mundo físico, alinhada às vias teleológica e dos graus de perfeição, junto com as vias da necessidade, chegam sempre a uma causa primeira, imóvel e inteligente, ou seja, Deus; porque é ele quem iniciou e guiou o movimento e a existência das outras vias.

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