Kant e a distinção entre os seguintes juízos analíticos e sintéticos, por Janilson Fialho

Kant e a distinção entre os seguintes juízos analíticos e sintéticos

Por Janilson Fialho

Juízos analíticos:

Kant diz que o juízo analítico é aquele em que o conceito do predicado está contido no conceito do sujeito. De modo mais específico podemos dizer que o juízo analítico é aquele que interliga dois conceitos que estão contidos um no outro; sendo assim, ele é a ligação dos conceitos, como diz Kant, ela “é pensada por identidade”.

Os juízos analíticos são também chamados de juízos explicativos, ou os juízos sintéticos de juízos extensivos. Kant expressa, portanto, uma identidade, explícita ou implicitamente. Desta maneira, quando digo que “um triângulo tem três ângulos” (este é um exemplo do próprio Kant), eu acabo emitindo um juízo implicitamente analítico. Um outro exemplo de juízo analítico é de que "todos os solteiros são não casados". Nesse caso, a ideia de ser solteiro já implica em não ser casado, portanto, a relação entre o sujeito (solteiros) e o predicado (não casados) é de identidade.

Para encerrar os nossos exemplos do juízo analítico (juízos explicativos), veremos esta última proposição, e analisaremos ela com mais precisão: "Todos os corpos são extensos". Deste modo, podemos analisar ela observando que o conceito "corpo" chega a representação de uma "forma", portanto, de algo que preenche o espaço, ou seja, somos induzidos a aceitar o conceito geral de "extensão". Sendo assim, quem entendeu o conceito de corpo sabe que o juízo "Todos os corpos são extensos" é um juízo correto e válido. Se não acrescentarmos mais nada de novo ao conceito de corpo com o predicado "é extenso", assim apresenta-se a ligação entre "corpo" e "extensão" como sendo uma ligação a priori.

Contudo, Kant diz, e já podemos notar de maneira bem clara, que os juízos analíticos são conhecidos por meio da análise dos conceitos envolvidos, sem a necessidade de recorrer à experiência. Eles são considerados conhecimentos a priori, ou seja, conhecimentos que não dependem da experiência empírica. Portanto, para Kant, os juízos analíticos são fundamentais para a compreensão do conhecimento a priori.

Juízos sintéticos:

Kant dirá que o juízo sintético é um tipo de juízo em que o predicado acrescenta algo novo ao sujeito, mas não sendo meramente uma relação de identidade ou uma não contradição. Em outras palavras, ele é um juízo em que o predicado não está contido no conceito do sujeito.

Podemos ver um exemplo de juízo sintético que "todos os carros são brancos", ou que "todos os corvos são pretos". Ora, nesse primeiro caso, o predicado (brancos) não está contido no conceito do sujeito (carros), porque nem todos os carros foram observados para verificar a sua cor; assim como também nesse segundo caso o predicado (pretos) não está contido no conceito do sujeito (corvos), pois nem todos os corvos foram observados para verificar sua cor. Portanto, podemos ver que a relação entre o sujeito e o predicado é de uma conexão empírica e não pode ser conhecida apenas por meio da análise dos conceitos envolvidos.

Desta forma, Kant argumenta que os juízos sintéticos são, portanto, conhecidos por meio da experiência empírica, pois estes requerem uma observação ou uma análise dos fatos além dos conceitos envolvidos. Sendo assim, eles são, neste caso, considerados conhecimentos a posteriori, ou seja, conhecimentos que dependem da experiência, ou ainda, é aqueles em que o predicado não está contido no sujeito, mas relaciona-se a ele por uma síntese. Eles, porém, são sempre particulares ou são empíricos, e não sendo universal e necessário, portanto, não servem para a ciência. No entanto, Kant também enfatiza a existência de juízos sintéticos a priori, que logo veremos a seguir.

Contudo, para Kant, os juízos sintéticos são aqueles em que o predicado acrescenta algo novo ao sujeito e são conhecidos por meio da experiência empírica, diferente do que vimos anteriormente no juízo analítico.

Juízos sintéticos a priori:

Por fim, veremos que os juízos sintéticos a priori são proposições que afirmam algo sobre o mundo que não pode ser derivado da experiência, mas que são conhecidos independentemente dela. Além do mais, são juízos em que também o predicado não é extraído do sujeito, mas que pela experiência forma-se como algo novo, construído.

Podemos ver que essa construção deve permitir ou antever a possibilidade da repetição da experiência, isto é, a aprioridade, entendida como a possibilidade formal de construção fenomênica, que permite a universalidade e a necessidade dos juízos. A experiência aqui não é a mera deposição de fenômenos na mente em razão da sequência das percepções, mas sim a organização da mente numa unidade sintética daquilo que é recebido pela intuição.

Dando prosseguimento nas suas argumentações, Kant discursa sobre a proposição, então vejamos o seguinte, que "Tudo o que acontece possui uma causa", este é um exemplo de juízo sintético a priori. Essa proposição é sintética já que no conceito de sujeito "Tudo o que acontece" não está contido o conceito de uma "causa". Portanto, “Tudo o que acontece” pode ser pensado sem o conceito de "causa"; ele é a priori, pois o conceito de causa não é um conceito que se obteve a partir da experiência, mas é um conceito puro do entendimento. Portanto, essa afirmação é sobre a natureza do mundo que é universalmente verdadeira e necessária.

No entanto, percebemos que Kant acredita que existem, de fato, os juízos sintéticos a priori, que afirmam algo além do que é contido na definição do conceito e podem ser conhecidos independentemente da experiência. Estes juízos são fundamentais para a possibilidade do conhecimento científico, pois eles fornecem o conhecimento universal e necessário sobre o mundo. Vejamos mais um exemplo de juízos sintéticos a priori, que "dois mais dois é igual a quatro", portanto, essa afirmação não pode ser derivada da experiência, mas é conhecida através da razão pura. Sendo assim, ela também é uma afirmação sobre a natureza dos números que é universalmente verdadeira e necessária.

Contudo, esses juízos sintéticos a priori são fundamentais para a filosofia de Kant, pois mostram que o conhecimento científico é possível e que há um conhecimento universal e necessário que podemos ter sobre o mundo.

Referências:

KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulberkian, 1994.

KESTERING, Julio Cesar. Considerações acerca da obra Crítica da razão pura de Kant.

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