Resenha: crítica ao curta-metragem Alike, por Janilson Fialho

Resenha: crítica ao curta-metragem Alike

Por Janilson Fialho

Começo por elogiar qualidade desse curta-metragem Alike dizendo que ele é muito bom, e para além de sua estética visual bonita e no uso das cores para expressar o tom dos sentimentos, ele tem uma sensibilidade narrativa bastante tocante, que pelas cores se demonstra os opostos de uma felicidade por ser livre dos compromissos e o aborrecimento que se sente na rotina no senso de dever dos compromissos e na padronização.

A reflexão que faço aqui, mediante as leituras que fiz do grande educador Paulo Freire, é em como há um processo de castração da vontade ou da autonomia (podemos ver isso na cena em que a criança depois de todo esse processo de castração simplesmente abre os braços aceitando a mochila igual um animal aceita um cabresto) do ser que o coloca como um sujeito nos moldes de um padrão social à agir de forma mecanizada, ou seja, esse agir do ser humano é levado à uma função social imposta por aqueles que estão no topo dessa organização.


É bastante evidente no curta a ideia de que há um ciclo vicioso na estrutura da sociedade, onde o sistema econômico influencia o sistema educacional, e este forma a geração que entrará no mesmo sistema econômico. O sistema educacional tem a capacidade de construir sujeitos aptos a uma passividade e somente responder os comandos de forma positiva no que diz respeito aos desejos do mercado de trabalho. Com isto, basta podermos olhar como a escola, e até mesmo a universidade, está entrando nos moldes da educação bancária por causa dessa preocupação em se ter uma agilidade de se formar mais e mais alunos para certas áreas do mercado de trabalho; digo certas áreas porque há um forte incentivo ideológico neoliberal ao abandono de algumas áreas do conhecimento porque não se adequam ao que o mercado exige e nem trazem uma contribuição "real" exigida pelo dito mercado. Assim substituem áreas importantes e fundamentais do desenvolvimento humano por uma visão rasa de empreendedorismo e inovação, que trazem por baixo um viés ideológico de auto-exploração.


A escola e o trabalho, neste caso, digo por fim que ambos impõe uma castração das nossas vontades e vocações para atender a demanda do que é exigido ao status quo do mercado de trabalho. Todavia, pensar fora desse padrão social é ser considerado um mero idealista. No entanto, a mudança é possível.


No mais, voltando-se ao curta-metragem, destaca-se ainda uma cena do pai imitando um violinista, ela me lembra claramente a frase de Nietzsche: "Aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música (Aurora, § 278)".


Nietzsche está refletindo que aqueles que são capazes de experimentar paixões elevadas, neste caso a felicidade que distoa do aborrecimento padrão, são muitas vezes considerados loucos ou insanos por aqueles que não compreendem e por estar fora do que eles acreditam ser o normal; podemos ver ainda na cena a maneira que as pessoas olham para o pai da criança, passando claramente a noção que a frase de Nietzsche nos diz. Portanto, a dança nada mais é que o comportamento atípico do dito normal.


Contudo, o final do curta me leva a pensar que temos como necessidade principal repensar o nosso modelo estrutural da sociedade, ou seja, pensando em uma forma que prioriza uma autonomia dos indivíduos a se fazer o que se quer, mas com o que realmente importa, isto é, visando sempre um interesse coletivo, e tudo isso é possível por meio da ação política.

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