Ética e a teoria das virtudes em Aristóteles, por Janilson Fialho
ÉTICA E A TEORIA DAS VIRTUDES EM ARISTÓTELES
Por Janilson Fialho
A ética aristotélica é a prática, o hábito ou o costume que o homem realiza visando uma ação relacional cuja finalidade é ser preparado para viver feliz na cidade, ou seja, uma ética que visa uma conduta dinâmica de vivência em sociedade. É uma ética que “estabelece os princípios racionais da ação virtuosa, isto é, da ação que tem como finalidade o bem do indivíduo enquanto ser social que vive em relação aos outros” (Chauí, 2002, pág. 350). Contudo, acabamos de ver que a ética está ligada à vida coletiva, e com isso, podemos ser levados a pensar em outro assunto que Aristóteles considera de suma importância para este tema, que é a política, e assim Aristóteles relaciona a função da ética a ela: “ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra” (Ética a Nicômaco, 1094b5, 1984, pág. 49), portanto, a finalidade da ética é a política. Entretanto, para chegarmos até a política de fato precisamos passar por uma singela refinação dos principais temas abordados pelo filósofo na sua principal obra sobre esse assunto: Ética a Nicômaco.
A Ética a Nicômaco é a obra que trata do agir humano como finalidade, ou seja, todo conhecimento que o homem faz é visando algum bem, isto é, o homem busca ser feliz por meio de uma atividade virtuosa. Portanto, o “bem” para Aristóteles, assim como para a maioria dos pensadores gregos é a felicidade, mas essa felicidade não consiste em prazeres materiais ou honras, e sim “na virtude (no sentido helênico areté), ou seja, na explicação e atuação das peculiaridades do homem, ou seja, em uma vida segundo a razão e na atividade da alma segundo a razão” (Reale; Antiseri, 2003, pág. 241); portanto, visando um bem em si mesmo, que é absoluto, necessário e desejável para si e para os outros, sendo uma função prática, tratando então o “bem em si” como o “bem feito”. Todavia, este bem feito, isto é, esse bem prático se mostra então no sentido de atividade, do agir da vida, ou melhor, é o que define então uma diferença que a virtude traz para a vida do ser humano, pois olhando de forma superficial “a vida parece ser comum até às plantas, mas estamos procurando o que é peculiar ao homem” (Ética a Nicômaco, 1098a5, 1984, pág. 56), desse modo a vida não é virtuosa por natureza, ou seja, a virtude não é algo primordial e definitivo que está dentro do homem, mas sim que a virtude é externa e que é obtida para dentro do homem, sendo assim, ela está na atividade, ela está na prática. A prática virtuosa pode ser aprendida nessa obra pelo o que o pensador distingue como “virtudes éticas” e “virtudes dianoéticas".
A VIRTUDE ÉTICA E DIANOÉTICA
Como foi dito, Aristóteles identifica que a finalidade da ética é o bem viver e o bem agir para ser feliz e para possuir uma vida contemplativa, e para isso se distingue as virtudes éticas e dianoéticas. A virtude ética está nas partes irracionais da alma, e que consiste em encontrar o justo meio entre os excessos para regular as nossas ações; já há também a virtude dianoética, que está na parte racional, que é aplicada às coisas mutáveis e as imutáveis, e nessa será necessário a distinção de duas formas diferentes de virtudes teoréticas (o que já foi abordado antes), que segundo Reale e Antiseri, é:
“[...]a sabedoria, que consiste na direção reta da vida do homem por parte da razão e que indica os meios mais idôneos para alcançar os fins verdadeiros e supremos; a sapiência, que consiste no desenvolvimento da razão na captação das virtudes.” (2003, pág. 241)
Contudo, podemos ver que estas são as práticas racionais que levam a felicidade há se realizar, isto é, são justamente feitas por meio das virtudes dianoéticas mediante a razão, que estão diante de uma condição principal e particular do ser humano, que é a sapiência, que dá o poder da atividade de contemplação da realidade; e a felicidade tem, por conseguinte, as mesmas fronteiras que a contemplação, e que mesmo retirando do homem toda ação produtiva, ainda assim restaria essa particularidade a ele, que representa o sumo bem. É por essa particularidade que Aristóteles é levado a pensar que nenhum animal é capaz de participar da felicidade porque eles não possuem razão. Entretanto, devemos voltar mais uma vez a virtude ética para explorar um tema em particular que é bastante importante na ética de Aristóteles, que é o meio justo.
O MEIO JUSTO OU MEDIEDADE
A virtude, lembrando do que já dito, sendo ela uma prática racional que visa o bem, temos agora que dizer como se chega até esse bem. Sendo assim, a melhor definição que podemos dar a ela é que “a virtude, ou melhor, a excelência, irá depender de um julgamento claro, autocontrole, simetria de desejos, maestria dos meios” (Durant, 1996, pág.75), esses sãos os meios práticos para se chegar a felicidade, e meios que não estão no âmbito do extraordinário ao ser humano, mas é claro que devemos dizer que ela “não pertence ao homem simples, nem é dom da intenção inocente, mas a realização da experiência do homem plenamente desenvolvido” (Durant, 1996, pág.75), desta forma vemos que é uma prática, então deve haver disposição do homem em praticar a virtude para assim chegar a um estado de razão que calcule suas ações com mais precisão. Entretanto, como saber o que é bom e o que é danoso ao homem? Aristóteles diz que a virtude está localizada entre dois vícios, então cabe saber o que são cada um desses três.
A mediedade representa o ápice, isto é, ela é a imposição do valor da razão sobre a irracionalidade para alcançar o equilíbrio. Portanto, a justa medida está entre dois extremos morais, que são considerados vícios, sendo que um por excesso de algo e outro por falta de algo, por exemplo, a coragem é a virtude, isto é, ela é um meio termo, é o meio termo que está entre o extremo da temeridade, este que é vício por falta, e o outro extremo que é ser afoito, este que é o vício por excesso, sendo assim, a coragem é a harmonia entre esses dois vícios de falta e excesso; podemos aplicar isso a outros exemplos, como a gentileza, ela é o meio termo entre os extremos da indiferença e da irascibilidade; a modéstia sendo o meio termo entre ser desavergonhado e ser tímido.
Contudo, para Aristóteles essa prática racional do meio termo é justamente para levar o homem a felicidade, e principalmente, que o homem feliz seja aquele que chega à cidadania, afinal, e como já foi dito, o filósofo quer levar a sua ética a compor uma prática social, isto é, buscando uma harmonia coletiva:
"Observamos que toda a cidade é uma certa forma de comunidade e que toda a comunidade é constituída em vista de algum bem. É que, em todas as suas acções, todos os homens visam o que pensam ser o bem. É, então, manifesto que, na medida em que todas as comunidades visam algum bem, a comunidade mais elevada de todas e que engloba todas as outras visará o maior de todos os bens. Esta comunidade é chamada de ‘cidade’, aquela que torna a forma de uma comunidade de cidadãos.” (Política, 1252a5, 1998, pág. 49)
Com essa citação entendemos a finalidade da ética, para estabelecer que o homem é por natureza um animal político.
Referências:
• ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Coleção: Os Pensadores. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. ed. Victor Civita, 1984.
• CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. Vol. 01. 2a. ed. rev. e ampl. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
• DURANT, Will. A história da filosofia. trad. Luiz Carlos do Nascimento Silva. 2a. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.
• REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã antiga. Vol. 1. trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.
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