Tradição como mercadoria: o fim da essência e o nascimento da commodity, por Janilson Fialho

Tradição como mercadoria: o fim da essência e o nascimento da commodity

Por Janilson Fialho

Fico bastante surpreso quando eu vejo alguém reclamando que tem música eletrônica e sertanejo universitário no São João, portanto, dizendo que isso acaba com a tradição e a essência da data comemorativa, minha surpresa é que tais críticos não sabem quem faz tal ou o porque de estarem fazendo tal coisa. Ora, o velho Karl Marx responde esse problema.

Marx diz que a tradição se torna uma mercadoria no capitalismo porque tudo é transformado em uma commodity para ser vendida e comprada no mercado, inclusive símbolos culturais, religiosos e tradicionais. Isso ocorre porque a lógica capitalista busca a maximização do lucro, e a cultura e a tradição são vistas como fontes de lucro potencial.

Assim, as tradições e símbolos culturais são transformados em produtos que podem ser vendidos para o público em geral, visando alcançar um grande número de pessoas e gerar lucro para a indústria cultural, ou seja, o São João para ser vendido como um produto capitalista precisa não ser somente forró pé-de-serra, porque isso limita o número de consumidores. Portanto, isso resulta em uma massificação da cultura, com a produção em massa de bens culturais padronizados e a perda de autenticidade e originalidade que as tradições podem ter.

Sua festa regional não é mais regional, porque o burguês a tomou e a transformou em um mero produto de consumo. Ele diminui a essência do original com o intuito de pôr em seu lugar a tendência do momento no mercado. Assim Marx diz:

"Tudo o que é sólido desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profanado e os homens são finalmente forçados a encarar com serenidade sua condição de servos assalariados. O poder do dinheiro transformou toda qualidade em mercadoria, e assim reduziu toda relação pessoal a mera relação de troca." (Karl Marx, O Capital, Livro 1, Capítulo 1)

Contudo, para Marx, essa transformação da tradição em mercadoria é um resultado direto da lógica capitalista, que busca transformar tudo em uma commodity para ser vendida e comprada, independentemente de seu valor cultural ou social.

Desta maneira, que não existe conservadorismo no capitalismo. Essa história de preservar a tradição no capitalismo é uma balela, pois para o capitalismo tudo tem que gerar lucro. Sua educação, sua segurança, sua saúde e sua religião são produtos para gerar lucro nesse sistema.

Voltemos para as empresas do entretenimento. O que parece ser mais estratégico, usar uma marca já consolidada ou criar uma nova? Ora, é evidente que a Disney, por exemplo, vai usar seus produtos que já tem um nome forte no imaginário de uma geração, pois aí entra o que é chamado "mercado da nostalgia", e vai vender para a nova geração com as pautas atuais, o que já é uma corrupção dessas pautas, visto que ela usa para vender. Ou seja, uma lógica de levar o seu produto para novos consumidores, e mais ainda, levar o seu produto com a cara do consumidor.

Voltemos para a questão do são João, por fim. Tem sertanejo e música pop para atrair outros consumidores fora do nicho do forró. Portanto, se o são João quiser crescer, ele não tem que ser conservador, ele não tem que respeitar nehuma tradição, pois o que importa para o sistema capitalista é o lucro.

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