Sobre a possibilidade de ser sábio, rico e ao mesmo tempo ser feliz, para Santo Agostinho, por Janilson Fialho
Sobre a possibilidade de ser sábio, rico e ao mesmo tempo ser feliz, para Santo Agostinho
Por Janilson Fialho
De cara vamos logo responder de maneira bem objetiva, então a resposta é sim! De fato é possível ser sábio, ser rico e ao mesmo tempo ser feliz. Afinal, Santo Agostinho acreditava, e podemos ver isso claramente na sua obra chamada Sobre a Vida Feliz (que iremos usar como base aqui), que a real felicidade não estava nos bens materiais, nem nos haveres ou nas posses, diferente do que pensava o personagem do filósofo romano Cícero chamado Sergio Orata.
Sergio Orata é usado como exemplo por Santo Agostinho para demonstrar que tal personagem de muitas posses era infeliz porque ele tinha medo de perder tudo. Desta forma, faltava alguma coisa para este personagem, e Agostinho mostra o que é.
O que faltava para Orata ser feliz era ser um sujeito sábio. Ora, o sujeito virtuoso é sábio, e é sábio por saber realmente o que deseja e como chegar até lá, só basta lembrar do exemplo dos três navegantes dado por Agostinho. O sujeito sábio, ao contrário de Orata, sabe muito bem que a riqueza é somente algo menor em sua vida, e sabe que ela é perecível; além do mais, este não teme as vicissitudes do mundo, portanto, ele não se importa se perder o que foi conquistado ao longo do tempo, pois sabe que, com perseverança, poderá recuperar tudo outra vez.
A felicidade é, portanto, para o homem sábio algo relacionado não aos bens materiais, ou como ele diz: “se alguém quiser ser feliz, deverá procurar um bem permanente, que não lhe possa ser retirado em algum revés de sorte” (AGOSTINHO, II, 11), portanto, está algo que ele procura imperecível só pode ser Deus. Por conseguinte, segundo o personagem do diálogo Licencio, ser feliz é quem possui a Deus; ou ainda, é ter Deus por perto e fazer a sua vontade, segundo Trigésio. Em vista disso, ainda podemos dizer que o sujeito sábio, é diferente daquele que vive somente pelos prazeres e apetites, ou seja, é diferente daquele que possui um espírito imundo, pois ele preza pela castidade, isto é, ele é moderado e não vive dos excessos, segundo Adeodato, o filho de Santo Agostinho. Ainda sobre a visão de Adeodato sobre o espírito imundo, podemos dizer que a estultícia da alma pode ser identificada como tendo além perversão moral, os vícios e a nequícia; já a alma nutrida de ciência, como diz Santa Mônica, mãe de Agostinho, presente neste diálogo, que o alimento da alma não é outra coisa senão a ciência e o conhecimento das coisas, é por meio disto que a alma possui a virtude da frugalidade. A frugalidade é, portanto, o oposto da nequícia, ela é uma virtude que evoca fecundidade. Já o vício da nequícia relaciona-se com a esterilidade, ela é uma alma infértil.
Concluímos dizendo que a alma do sábio é perfeita, ao passo que nada lhe falta, pois ele se servirá do que estiver ao seu alcance, incluindo o que afirmamos no início, ou seja, a riqueza; afinal, ele será feliz não por causa dela. Santo Agostinho, ao longo dos três colóquios de Sobre a Vida Feliz, concluirá que o sujeito, cuja alma é alimentada pela sabedoria, será moderado, prudente e tem a benevolência de Deus por perto, sendo rico ou não, estará na terra firme da felicidade.
Comentários
Postar um comentário