Resenha: crítica ao filme "Irreversível" de Gaspar Noé, por Janilson Fialho

Resenha: crítica ao filme "Irreversível" de Gaspar Noé

Por Janilson Fialho

Irreversível é um filme do diretor francês Gaspar Noé, que traz na sua narrativa a peculiaridade de contar a história de trás para frente. Este filme é excelente pela sua proposta e execução técnica, além de explorar temas bastante delicados. Faremos aqui uma breve resenha deste filme.

A primeira cena do filme mostra uma cena com uma imagem turva e com uma música e vozes abafadas até chegar em plano mais aberto onde podemos finalmente ver dois amigos desesperados, Marcus (Vincent Cassel) e Pierre (Albert Dupontel), sendo presos logo após terem saído pelo submundo de Paris à procura do homem que teria estuprado e espancado Alex (Monica Bellucci), a atual namorada de Marcus e ex-namorada de Pierre. Ainda não conseguimos entender o porque daquilo estar acontecendo, mas em seguida a narrativa volta passo a passo no tempo para mostrar como Marcus e Pierre descobriram o nome do autor do crime, recuando até o próprio estupro e os eventos que o antecederam.


O que posso dizer desse filme? Ora, Gaspar Noé destrói o psicológico do espectador com suas cenas escatológicas. Os recursos técnicos conseguem trazer uma sensação de náusea, de impacto visual, de tontura, de desconforto e de tristeza. A câmera desorientada consegue gerar um desequilíbrio, as cores e os cenários conseguem arrancar uma sensação de opressão. E o que dizer dos personagens? Temos uma construção da seguinte maneira: Pierre é a razão, Marcus é a paixão e os excessos, uma bela dupla que representa o conceito nietzschiano de apolíneo e dionisíaco; e para fechar a conta, tem a personagem Alex, que é aquela que une esses dois.


As consequências que levam a desconstrução dos personagens gera um desenvolvimento muito bom. Digo que o personagem Marcus, como sendo aquele guiado pela paixão e o ódio é aquele que desempenha o papel da vingança, porém, num fim bastante irônico ele acaba por fracassar. Já Pierre, o homem que se julga tão racional, que tenta parar ou por um pouco de juízo em Marcus, é aquele que descarrega a fúria e acaba cometendo o ato de assassinar e consumar a vingança.


Há um diálogo interessante entre os três personagens quando eles estão à caminho de uma festa, o assunto era sobre o prazer e o sexo. Eu vejo que nesse diálogo tem um simbolismo muito forte, porque Alex fala que a pessoa não tem que se preocupar com o prazer do outro, que Pierre tem que parar de pensar demais nos outros — e de fato ele tem que moderar essa obsessão.


Ainda sobre essa cena, ela diz que o prazer da mulher vem do prazer egoísta do homem. Isso acaba por se tornar uma espécie de sina para os eventos que irão ocorrer — e que infelizmente a gente já viu. Portanto, ao dizer tal coisa vem na lembrança a cena que vimos anteriormente, isto é, a polêmica cena em que ela foi estuprada. O que ocorreu foi o mais escatológico dos "prazeres", aquele que é o mais egoísta que existe, ou ainda, o desejo de poder mais perverso e deplorável que nos faz questionar a natureza humana.


Como a narrativa é ao contrário, ou seja, vemos o fim indo ao começo, temos o clímax mais intenso logo de cara, o que pode fazer a pessoa desistir de ver por causa das cenas de brutal violência física e psicológica no começo (e devo confessar que em alguns momentos quase desisto de assistir), mas logo isso vai passando e vamos nos encaminhando a uma tradicional calmaria "inicial" no fim do filme.


Terminamos, contudo, com um final feliz. Entretanto, um "final feliz" triste, pois sabemos no que isso vai dar, e sabemos que isso é irreversível. O filme termina, portanto, com uma frase: "o tempo destrói tudo".

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