Comentário: a Vontade de Potência de Nietzsche por Deleuze, por Janilson Fialho
Comentário: a Vontade de Potência de Nietzsche por Deleuze
Por Janilson Fialho
O seguinte comentário vai se concentrar na seguinte passagem da obra "Mistério de Ariadne segundo Nietzsche", onde Deleuze explora a relação entre a vontade de potência, a afirmação e a negação, as forças ativas e reativas, o niilismo, a má consciência, o ressentimento e a moralidade, da filosofia de Nietzsche. Vejamos a citação de Deleuze sobre o conceito de Nietzsche então:
Segundo Nietzsche, a vontade de potência tem duas tonalidades: a afirmação e a negação; as forças têm duas qualidades: a ação e a reação. O que o homem superior apresenta como sendo a afirmação é, sem dúvida, o ser mais profundo do homem, mas é apenas a combinação extrema da negação com a reação, da vontade negativa com a força reativa, do niilismo com a má consciência e o ressentimento. Os produtos do niilismo é que se fazem carregar, as forças reativas é que carregam. Daí a ilusão de uma falsa afirmação. A moral, por sua vez, é um labirinto: disfarce do ideal ascético e religioso.
Nietzsche, portanto, argumenta, segundo Deleuze, que a vontade de potência, que é a força fundamental que impulsiona a vida --- e querendo ou não isto tem um "quê" de metafísica muito forte ---, tem duas tonalidades, elas são: a "afirmação" e a "negação".
Tais forças, por sua vez, têm duas qualidades que são: a "ação" e a "reação". Sabendo disso, Nietzsche afirma que o que o homem superior apresenta como sendo a "afirmação" é, na verdade, uma combinação extrema da negação com a reação, ou seja, ela, a afirmação, está em uma forma disfarçada de negação e reatividade. Com isto, Deleuze mostra que Nietzsche critica o niilismo, que é a negação da vida e a crença na ausência de valor e sentido, por meio desse conceito. Ora, ele argumenta que o niilismo é acompanhado pela má consciência e pelo ressentimento. Sendo assim, o niilismo e suas consequências são carregados pelos produtos do niilismo, isto é, que são as forças reativas. Essas forças reativas são as que carregam o peso da negação e da reatividade, enquanto iludem uma falsa afirmação.
Todavia, o homem superior, segundo Nietzsche, busca o conhecimento e pretende explorar o labirinto ou a floresta do conhecimento, assim é dito por Deleuze: "O homem superior invoca o conhecimento: ele pretende explorar o labirinto ou a floresta do conhecimento. Mas o conhecimento é só disfarce da moralidade; o fio no labirinto é o fio moral". No entanto, Deleuze nos diz que Nietzsche argumenta que o conhecimento que o homem busca é apenas um espécie de disfarce da moralidade, sendo o fio no labirinto o fio moral. Ele assim sugere que a moralidade é, por sua vez, um labirinto, um disfarce do ideal ascético e religioso. Nietzsche vê isto também, segundo Deleuze: "do ideal ascético ao ideal moral, do ideal moral ao ideal de conhecimento: é sempre o mesmo empreendimento que se persegue, o de matar o touro, isto é, negar a vida, esmagá-la sob um peso, reduzila às suas forças reativas"; portanto, vemos que há uma continuidade entre o ideal ascético, o ideal moral e o ideal de conhecimento. Desta maneira, ele afirma que esses ideais são empreendimentos que buscam, em suas palavras: negar a vida, esmagá-la sob um peso, reduzi-la às suas forças reativas. O objetivo desses ideais é matar o touro, que simboliza a vitalidade e a força da vida, o Dionísio.
Imagine o seguinte exemplo, onde uma pessoa que se considera superior e busca afirmar sua vontade de potência. Essa pessoa pode agir de forma aparentemente positiva, mas na verdade está apenas negando e reagindo ao que considera inferior. Essa pessoa pode, portanto, apresentar um comportamento arrogante e desprezível em relação aos outros, pois está expressando sua negação e reatividade em relação a eles. Essa atitude pode ser claramente, de acordo com a ideia de Nietzsche, o resultado do niilismo, ou seja, ela está sendo a negação da vida e a falta de crença em valores e significados. A pessoa que se entrega ao niilismo pode experimentar má consciência e ressentimento, pois sente-se frustrada com a falta de sentido e valor em sua vida. Essa pessoa, ao buscar conhecimento, pode acreditar que está explorando o labirinto do conhecimento de forma objetiva e imparcial. No entanto, Nietzsche argumenta aqui que esse conhecimento é apenas um disfarce da moralidade.
Em suma, resumimos então que ele critica a falsa afirmação que se apresenta como a vontade de potência, mas que na verdade é uma combinação extrema da negação com a reação. Como também critica o niilismo, a má consciência e o ressentimento, que são produtos desse niilismo. Além disso, ele questiona, como vimos no exemplo, o conhecimento operando como um disfarce da moralidade e argumenta que tal moralidade é somente um labirinto que nega a vida. Ele vê uma continuidade entre o ideal ascético, o ideal moral e o ideal de conhecimento, pois todos eles buscam negar a vida e reduzi-la às forças reativas.
Comentários
Postar um comentário