SOBRE A CRÍTICA NEOMARXISTA DE MICHAEL APPLE

 SOBRE A CRÍTICA NEOMARXISTA DE MICHAEL APPLE

Grupo: Janilson Ferreira Fialho Filho

Mariana Borges Pereira

Tassia Raphaelle Gomes Barbosa

Yago de Sousa Araujo

1 - Michael Apple é um teórico educacional conhecido por sua crítica neomarxista ao sistema educacional. As contribuições de Apple são a análise das políticas curriculares e o estudo das relações entre educação e sistema econômico, como também a investigação do currículo oculto. Ele argumenta que a escola não é uma instituição neutra, mas sim uma estrutura que reflete e reforça as desigualdades sociais e econômicas existentes. Essa crítica neomarxista também se concentra na forma de questionar de maneira mais radical a educação liberal e as estruturas educacionais utilizadas para manter o status quo e a hierarquia social existente.

   Apple toma como ponto de partida os elementos da crítica marxista para analisar a dinâmica social, assim ele afirma que a escola é um lugar onde as crianças aprendem sobre a dominação e a subordinação, e que essa dinâmica é reforçada através do currículo, das práticas pedagógicas e da estrutura escolar em si. Além disso, o teórico neomarxista enfatiza a importância da conscientização crítica por parte dos estudantes, para que possam resistir às forças opressivas presentes no sistema educacional e na sociedade em geral.

2 - A concepção de "currículo oficial" e o "currículo oculto" são ideias introduzidas por Michael Apple que se referem às maneiras pelas quais o sistema educacional transmite conhecimentos e valores aos alunos. O currículo oficial é o conjunto de conhecimentos e habilidades que são formalmente ensinados nas escolas, ou seja, são as matérias obrigatórias mais a visão ideológica que irá formar o estudante. Por outro lado, o currículo oculto são as mensagens implícitas, valores e atitudes que são transmitidos aos alunos dentro e fora da sala de aula, isto é, o conjunto de experiências educativas vividas pelos estudantes, o que pode contribuir para a aprendizagem de normas sociais e comportamentos coletivos. O currículo oculto é uma maneira de quebrar o engessamento do ensino do currículo oficial, trazendo para o ambiente escolar as relações interpessoais e os problemas do cotidiano.

3 - Michael Apple se preocupa com a ligação da forma como a economia está, e também a forma como o currículo escolar está organizado. A preocupação dele é em evitar uma concepção mecanicista e determinista dos vínculos entre produção e educação, porque para ele não é suficiente postular que um vínculo entre as estruturas econômicas e sociais e a estrutura da educação e o currículo ocorra sem um processo de mediação. Portanto, este é o problema, ou seja, o problema da mediação entre economia e currículo escolar é, portanto, que eles são ativamente produzidos e mediados pela ação humana. Portanto, esses currículos escolares tem uma perspectiva ideológica no meio. Aqui é alertado o seguinte (e que será esclarecido mais a frente): aquilo que ocorre na educação e no currículo não pode ser simplesmente deduzido no funcionamento da economia" (SILVA, 1999, p. 46).

   A preocupação de Apple sobre tal mediação é porque ela sempre recorre à hegemonia, tal como foi formulado por Antonio Gramsci. E antes de prosseguirmos, devemos entender o que é a hegemonia de Gramsci, porque ela é bastante importante para a crítica neomarxista de Apple.

Antonio Gramsci que foi um filósofo também marxista que desenvolveu o conceito de hegemonia cultural, explica que os grupos dominantes mantêm seu poder por meio da formação de valores, atitudes e crenças culturais. Gramsci acredita que, para uma revolução ser bem-sucedida, ela precisava ser tanto política quanto cultural, e que para ele a classe trabalhadora precisava vencer a batalha pela hegemonia cultural para derrubar a classe dominante. Contudo, Gramsci entendia a construção de uma nova hegemonia como uma unidade entre teoria e ação. Uma teoria capaz de traduzir, em realidade, a ação do proletariado para a edificação de novas relações sociais de produção. Assim como uma nova "superestrutura" (termo marxista para a base que comporta as leis, as ideias, as políticas, a cultura, e as instituições); portanto, a proposta de um novo aparelho de hegemonia que difundisse uma concepção de mundo unitária, uma sociedade civil restaurada que, em conexão orgânica com a estrutura, se torne-se capaz de destruir o Estado em sentido estrito a noção de classes. Seria um processo de reabsorção da sociedade política pela sociedade civil.

   A crítica do nosso texto (a citação principalmente) deixa bem claro que as estruturas econômicas não são suficientes — por questões de ideologia — para garantir a consciência, ou seja, um ensino técnico não gera um trabalhador consciente, mas sim um alienado que apenas produz; a consciência precisa ser conquistada em seu próprio campo, isto é, a educação.

4 - A consciência precisa ser conquistada em seu próprio campo, assim foi dito anteriormente, mas só dizer isso não basta, devemos entender esse processo melhor.

   Retomando alguns pontos, entendemos então que o currículo não é um corpo neutro, inocente e desinteressado de conhecimentos. A seleção que constitui o currículo é o resultado de um processo que reflete os interesses particulares das classes e dos grupos dominantes.

  Portanto, a nossa preocupação não é com a validade epistemológica do conhecimento no corpo do currículo; a questão aqui não é simplesmente saber qual conhecimento é verdadeiro, mas qual conhecimento é considerado verdadeiro, ou seja, o que é dado como oficial a todos.

   A educação por meio de seu currículo oficial pode ser na verdade um currículo que apenas transmite a ideologia hegemônica da classe dominante.

  Contudo, apenas dizer que há uma classe dominante sem dar o devido nome ou identificá-la acaba por ocultá-la. Sendo assim, temos que observar o nosso próprio país e tomá-lo como exemplo de análise. Por exemplo, o projeto do Novo Ensino Médio faz parte de uma hegemonia ideológica de um grupo político-econômico neoliberal. Vejamos o que é o Novo Ensino Médio e porque ele é a ideologia hegemônica desse grupo político-econômico.

5 - A reforma do Ensino Médio foi proposta em setembro de 2016, logo após o golpe que depôs a presidente Dilma Rousseff e instituiu Michel Temer como presidente. Sob o comando de Mendonça Filho, no Ministério da Educação (MEC), a reforma propôs a redução da carga horária das disciplinas gerais do Ensino Médio, tornando obrigatórias apenas as disciplinas de português e matemática; e também instituiu os itinerários formativos (especialização dentro de uma das áreas do conhecimento ou ensino técnico profissionalizante); tornou inglês disciplina obrigatória como língua estrangeira; permitiu o notório saber para a prática docente, sem a necessidade de diploma em licenciatura; também se ampliou a carga horária total do Ensino Médio e permitiu que parte do ensino fosse oferecido na modalidade à distância. Além disso, a proposta inicial retirava a obrigatoriedade do ensino das matérias de artes, educação física, sociologia e filosofia.

   Contudo, havia então um discurso falso de que ele seria uma alternativa para solucionar a alta evasão e baixo desempenho dos estudantes, propondo um ensino médio mais “atrativo”. Na verdade, o Novo Ensino Médio não resolveu nada, aliás, somente aprofundou as desigualdades educacionais, uma vez que dificilmente boa parte das escolas públicas tiveram condições de ofertar todos os itinerários formativos como também houve a redução da carga horária das disciplinas gerais. Os argumentos públicos que justificam o Novo Ensino Médio foram somente para mascarar os interesses dos empresários, e nada foi resolvido sobre os problemas da educação dos jovens. Aliás, fazer com que os estudantes escolham uma área para se especializarem com apenas 14 ou 15 anos é um tanto precipitado. Além, é claro, do objetivo de formar uma força de trabalho para o atual mercado capitalista neoliberal, visto que em uma lógica que visa somente “formar” jovens — sem se preocupar com a qualidade do ensino — para assegurar os “melhores” índices educacionais colocando o país em uma melhor posição na disputa econômica mundial. Soma-se a esses interesses dos empresários, a valorização de suas marcas a partir do envolvimento em projetos sociais vinculados à educação, sendo uma importante ação de marketing.

   Os interesses por trás do Novo Ensino Médio são, portanto, formar mão de obra obediente barata e que não questiona, com as habilidades e competências determinadas pelas empresas, que reproduza o sistema capitalista em seu atual estágio neoliberal, com piores condições de trabalho, que aceita toda a política de austeridade e de retirada de direitos que a ofensiva neoliberal impõe. Para os jovens da elite se coloca o acesso ao conhecimento pleno e as possibilidades que este traz para assegurar uma vaga na universidade. Para as camadas populares, formação aligeirada para inserção no mercado de trabalho precarizado, sem vislumbrar horizontes mais amplos. O que seria então o Novo Ensino Médio? Ora, o Novo Ensino Médio é senão a hegemonia cultural dos burgueses no currículo escolar.

6 - Por fim, de acordo com a teoria desenvolvida por Michael Apple, vemos que o Currículo não é uma mera colagem objetiva de informações, pois estas são sempre frutos de determinados agrupamentos sociais, ou seja, o Currículo oficial é dado pela classe dominante, pois são estes que decidem o que será transmitido nas salas de aula. Sendo assim, as contribuições de Apple para a análise das políticas curriculares é o estudo crítico das relações entre educação e sistema econômico, e a investigação do currículo oculto.

Referências:

APPLE, Michael. Ideologia e Currículo. São Paulo: Brasiliense, 1982.

GRAMSCI, Antonio. Escritos políticos. Organização e tradução de Carlos Nelson Coutinho.

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. v. 2.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Edição e tradução de Carlos Nelson Coutinho.

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. v. 3.

PONTES, Barbara. Artigo: A quem interessa a Reforma do Ensino Médio?. Site: Brasil de Fato. São Paulo (SP), 26 de Julho de 2021. Link do artigo:

https://www.brasildefato.com.br/2021/07/26/artigo-a-quem-interessa-a-reforma-do-ensino-m edio SILVA, Tomaz Tadeu da. A Crítica Neomarxista de Michael Apple. In: Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

SOBRAL, Karine Martins; RIBEIRO, Ellen Cristine dos Santos. A concepção de hegemonia no pensamento de Antonio Gramsci. Cadernos GPOSSHE On-line, Fortaleza, v. 3, n. 2, 2020.

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