Um Revolucionário que Pensa na Tradição
Um Revolucionário que pensa na tradição
Por Janilson Fialho
Walter Benjamin (1892 - 1940) foi um filósofo marxista, mas era diferente dos outros marxistas do seu tempo, porque ele considerava importante a defesa da tradição. Entenda bem o que é essa defesa para não cair no erro de achar que ele era um reacionário. Ele não defende a tradição na maneira de seguir hábitos e costumes porque simplesmente o indivíduo tem que seguir. Não, ele não tem essa visão alienada de seguir os hábitos de maneira acrítica, porque esses mesmos hábitos e costumes muitas das vezes são violentos e preconceituosos, e a crítica é necessária e deve ser feita. Por outro lado, há processos de violência que se enraizam na sociedade gerando uma espécie de apaziguamento por meio da falta de crítica. Por exemplo, nós falamos o idioma português, que é um idioma fruto de um processo de colonização violenta que ocorreu no nosso país. Até hoje ainda falamos português, isto é, aparentemente ele foi preservado, mas se olharmos bem para ele, veremos que no decorrer desse processo temporal houveram algumas mudanças nele. Contudo, foi gerado um resultado que podemos apontar como a adição de mudanças (ou ainda, houve um tipo de "sincretismo" cultural). Desenvolveu-se várias modificações em algumas coisas no nosso português brasileiro no que diz respeito ao significado de certos termos e a criação de novas palavras, e até mesmo a geração de sotaques. O tempo ocultou, ou até mesmo mudou, o significado certas ofensas, principalmente racistas e homofóbicas, tornando o que outrora era negativo em positivo, e em outra situação o que era positivo para época passou a ser negativo. Podemos perceber claramente que o sentido das palavras está de acordo com a época, deste modo ela está sujeita a modificações gerando um novo sentido de acordo com a nova sociedade, e talvez esse novo sentido eventualmente irá encontrar uma nova antítese social, gerando então uma nova síntese. Perceba que esse movimento está de acordo com a dialética hegeliana, e neste caso, o processo cultural vai criando um movimento deixando as palavras diferentes da sua origem, mas elas não estão sendo apagadas de forma definitiva.
Entretanto, voltando para Benjamin, a grande reflexão do filósofo é basicamente que nós temos um patrimônio cultural a ser preservado, ou seja, manter a história viva e dialogar com ela. Nós temos uma série de saberes e de experiências que constituímos ao longo do tempo. E olhando para o contexto dos anos 1920 e 30 do século XX, podemos ver que naquela época quem mais destruiu a tradição, quem mais queimou o patrimônio cultural do povo, foram os fascistas. Os fascistas, apesar de serem profundamente reacionários, de cultuarem uma certa forma de tradição, eles pensam em um passado idealizado, ou seja, totalmente abstrato, de modo que na visão deles é preciso destruir tudo o que foi feito para recomeçar do novo. Podemos olhar para um exemplo bem recente no Brasil de uma liderança política da extrema direita que praticamente só buscou destruir a cultura e as instituições. A cultura foi atacada a golpes de faca. Esfaquear o quadro do Di Cavalcanti é esfaquear o patrimônio cultural do país. As instituições são para Benjamin, problemáticas, mas mesmo assim são a garantia para alguma coisa, como neste caso a democracia. Mesmo a democracia possuindo alguns defeitos, mas ainda assim ela continua sendo a democracia.
Benjamin diante disso perguntava: o que nós da esquerda podemos fazer? O que nós revolucionários podemos fazer para mudar essa sociedade sem se igualar a destruição dos fascistas? Sem cair no futurismo de Marinetti, este que pregava a queima de bibliotecas, ou seja, de erguer uma nova sociedade das cinzas da antiga. O encanto pela violência e destruição é extremamente fascista. Então como fazer uma revolução sem ser fascista?
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