Sobre a Visão Pessimista (ou o Cândido Negativo), por Janilson Fialho

 Sobre a Visão Pessimista

(ou o Cândido Negativo)

Por Janilson Fialho

    O que é a filosofia de alguns pensadores do que senão uma prática do sujeito impor de maneira indireta a visão particular valorativa como uma visão geral acerca do mundo. Há quem tome como exemplo de verdade absoluta o pessimismo de Schopenhauer como verdade máxima sobre o mundo (aqui focarei apenas no pessimismo). O problema não é a ideia do filósofo em si, mas a interpretação geral que se faz dela, ou ainda, do sujeito que faz dela uma verdade absoluta. O sujeito que assim o faz olha para certas situações horríveis que ocorrem, de modo eventual, na sociedade ou na natureza e, de maneira fugaz, recorre logo aos textos para encontrar alguma semelhança no pessimismo do filósofo. Ele faz isso como se lá fosse um tipo de livro das revelações negativas que explica com precisão os problemas do mundo.

    Schopenhauer talvez não escreveu suas ideias pessimistas levado pela razão, mas somente pelas paixões; e não há crime em falar isso, basta olhar a sua biografia, afinal, ele era um sujeito totalmente amargurado e ressentido (principalmente com a figura da mãe). Como posso levar a sério, ou como verdade universal, o pensamento de um sujeito amargurado? Digo isso porque muitos leitores de Filosofia cometem o que podemos chamar de erro ao esquecerem o essencial deste campo do saber: que é a dúvida. Alguns acabam por transformar certos autores em portadores da verdade (Nietzsche que criticava a adoração dos ídolos, por ironia do destino, virou um ídolo). Posso ser acusado de falácia ad homine por chamar Schopenhauer de amargurado e recorrer à biografia dele como fonte? Claro. Mas será que isso invalida a crítica? Há quem diga que não tem como separar autor da obra em alguns casos.

   Aqui faço, o que talvez estes fizeram: usar da paixão contra paixão. Minha paixão é o otimismo, e faço dela uma oposição a paixão desesperada do niilismo. Aliás, não penses que sou um tipo de Cândido por ser otimista, pois não nego as mazelas do mundo, pelo contrário, as reconheço e luto contra elas na medida em que posso. Cândido mesmo (digamos como sendo um Cândido Negativo) é o pessimista, porque ele transforma a sua amargura em algo geral, isto é, levando a sua visão a cegueira da realidade ao todo. E mais, vamos tentar explicar isso melhor, a cegueira desse Cândido negativo carrega uma arrogância em generalizar todas as situações como sendo horríveis e maldosas, e fazem isso usando uma máxima deturpada que é: a realidade é assim mesmo. Em tudo eles se apoiam no argumento famigerado de realismo como máxima absoluta. Eles explicam que há somente corrupção na política, por exemplo, como se na realidade, todo político fosse corrupto, ou um déspota que faz de tudo para se manter no poder (como assim é pensado pelos leitores de Maquiavel, e veja que o "pessimismo real" se faz presente quando muitos dos leitores apontam que esse pensador criou o "realismo político"). Portanto, esses também caem na mesma inocência do Cândido Positivo (o puro otimista) de acreditar na bondade pura, ou melhor, vamos utilizar o mesmo exemplo, no oposto do negativo em generalizar que na realidade, todo político é honesto. A realidade, a realidade mesmo de fato, é que existem os dois casos convivendo no mesmo espaço ao mesmo tempo, e não somente uma dessas visões cândidas.

   O pessimista que usa o argumento de que a realidade é triste, diz isso não usando a razão, mas somente a sua paixão melancólica com toques de arrogância intelectual cheia de amatia (expressão grega para achismo). Se usarmos a dialética ascendente de Platão para observar este Cândido Negativo, poderemos perceber que ele apenas saiu da Doxa (opinião) para a Pistis (crença) de que o mundo é horrível e insignificante. Este sujeito que não atingiu o conhecimento ainda está preso no mundo sensível, e sua prisão é uma visão única acerca de tudo. Uma visão ignorante no sentido radical da palavra.

   Entretanto, voltemos ao outro assunto, o anterior sobre fazer dos filósofos uma visão única do mundo, ou um guia iluminado para todas as situações. Não nego, também caio na fraqueza de esquecer o fundamento (a dúvida) da filosofia. Faço de alguns autores verdadeiros portadores da verdade para explicar tudo, mas pelo menos não me prendo a uma visão dada por um pessimista. Contudo, discordo do pessimismo de Schopenhauer, mas não o deixo de ler e usar uma frase ou duas em determinada situação. Leio ele e faço críticas. No fim, sou um otimista que lê um pessimista. Tento ver de fato a realidade conforme as palavras do escritor paraibano Ariano Suassuna: "O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso."

Escrito em 16/03/2023

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