O Acaso e a Arte feita pela "IA"

 O ACASO E A ARTE FEITA PELA "IA"

Por Janilson Fialho

  Um artista deve zelar por sua imagem, logo se eu criar uma arte com uma IA (Inteligência Artificial), eu tenho que ter a devida noção do meu processo de produção, ou seja, ter noção de que a IA é uma ferramenta, e eu a manipulo. Desta forma, eu tenho que levar em conta a escolha das palavras chaves que são usadas nesse programa, ou seja, eu escolho essas palavras para compor o algoritmo da IA para realizar o processo de produção da arte; também tenho que levar em conta o meu critério no resultado apresentado pela IA, portanto, é mediante a minha decisão se ficou um bom trabalho ou não. De qualquer maneira, eu tenho que ter um conhecimento estético para poder criar uma arte Conceitual com a IA.

    Alimentar a IA com palavras-chaves e esperar o acaso parece não ser nada demais para aqueles que são puritanos do processo criativo que demande um esforço cansativo; ora, brincar com o acaso também exige um esforço mental danado, nem todo resultado é aceitável, e assim vai seguindo o processo de mudança das palavras-chaves, e isso pode seguir por horas, ou até dias, até chegar em um resultado agradável. Afinal, querendo ou não, o artista é um perfeccionista na sua arte, desde aqueles que fazem arte realista até os que fazem a mais puras abstrações, desde os que fazem música tonal até a música atonal. Contudo, isso diferencia daqueles que só usam essa ferramenta para brincar, pois para essas pessoas faltam um olhar apurado.
   Aliás, por falar em acaso, lembro e destaco neste texto que o compositor John Cage (1912 - 1992) foi um pioneiro na música aleatória, ele utilizava o I Ching, uma espécie de dados por assim dizer, no seu processo de composição, ou seja, ele também criava totalmente de acordo com o acaso. O método de Cage bebia muito da sabedoria oriental:

"Utilizado como oráculo, o I Ching apresenta respostas através de sorteios com moedas ou varetas. São sorteados trigramas formados pela combinação de linhas yin – vazadas – e yang – compactas – e tais trigramas, combinados entre si, compõem signos mais complexos chamados de hexagramas.
Cage se apropria do método de sorteio do I Ching para efetuar as escolhas na composição de suas peças, desenvolvendo um discurso musical baseado na descontinuidade. As peças desse período apresentam como característica geral a definição de elementos escolhidos através processos randômicos." (Rossi, 2015, p. 8)

   Então como podemos ver, isso não é nenhuma novidade hoje, antes usava-se os dados para definir o resultado experimental no processo de criação, hoje usa-se o algoritmo dos programas no resultado experimental.
   O que realmente importa é a afirmação que dou a obra, e que ela é minha e não da IA, porque o programa é apenas uma ferramenta que compôs o que eu já planejei. Dar os créditos ao programa da IA é o mesmo que dar os creditos a marca de tinta, veja bem: não é ao material das tintas, mas sim a marca das tintas, e fazer tal exposição das marcas é uma coisa bem frívola; na verdade, comentar sobre marcas é coisa que fazemos nos bastidores. Entretanto, até pode se fazer isso, afinal, não faço juízo de valor para quem faz ou já fez essa exposição de marcas, entretanto, vejo essa questão dessa maneira, que não há importância em expor a marca de determinado material, somente a arte é o que importa.

Fonte: ROSSI, Natália Angela Fragoso. Acaso e Indeterminação no Processo de Composição: Um Diálogo com a Obra de John Cage. Dissertação ao programa de Pós-graduação em Música da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre em música. Orientador: Rogério Vasconcelos Barbosa. -- Belo Horizonte (MG), 2015.

Artes feitas utilizando IA:

 1. Paisagem Surrealista #1



2. Paisagem Surrealista #2



3. Paisagem Surrealista #3



4. Distorção



5. Persona



6. Retrato



7. Entre sonho e sonho



8. Devaneio



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