Arte Saturada e às novas interações com ela
Arte saturada e às novas interações com ela
Falei na primeira
parte sobre saturação da arte vivenciada no cotidiano, que é esse motivo de
conhecermos novos lugares e novas artes, e deixei uma idéia não
acabada sobre uma nova forma de interação com a arte do cotidiano,
e aqui abordarei sobre isso.
Como dito antes, a
arquitetura é a arte mais fácil de cair no banal. A rotina frenética faz o
indivíduo esquecer de apreciar o mundo ao seu redor, até mesmo a falta de
estímulo à curiosidade pode ser uma causa, e esse dois fatores podem levar a
uma “Vida automática”. Posso dizer que isto está presente até mesmo em
lugares como Paris, que por muito tempo foi considerada a cidade das artes, o
que mostra que ninguém escapa da Vida automática (abordarei isso com detalhes mais
adiante), até mesmo um monumento como o Arco do Triunfo pode se tornar banal.
Sim, os parisienses podem ignorar o Arco do Triunfo, ignorar a sua
grande presença, eles podem não mais olhar para ele com admiração.
Sabe como fazer os parisienses voltarem a olhar para o Arco do Triunfo como
arte? Já aconteceu, isso foi a pouco tempo, e aconteceu pelas mãos de
um artista chamado Christo (1935 – 2020), o inventor de um gênero
artístico chamado “Land Art”, ou “Tecido do espaço”, que, ao
lado da artista e também
esposa, Jeanne-Claude Denat (1935 – 2009), empacotavam
monumentos arquitetônicos, alterando a paisagem urbana, com o objetivo de
transformar o que aparentemente estava invisível ou inexistente em algo com
presença real. O último trabalho, e também póstumo do artista
citado, Christo, foi exatamente embrulhar o Arco do Triunfo
de Paris.
Artistas como o
casal Christo-Denat são importantes para a arte, não foi banal a obra
que eles fizeram, você pode até pensar que a idéia de cobrir algo
seja simplória, mas não é mesmo, é genial! Fuja do simples padrão estético de
“belo”, pois, isto sim é superficial e leva a um conceito automático de
apreciação das artes, guiado apenas pelos sentidos. A interação com a arte já
existente, ou melhor, releituras de trabalhos consagrados da arte são
perfeitas para termos um contato inicial com elas, levá-la para um novo
público, além de ser uma forma de exercitar a criatividade; aliás, já aviso aos
puristas das artes que não julgue que estou falando em modificar o
material original, respeito a obra original, mas acredito
nas releituras e nos arranjos, pode até parecer uma obviedade falar
isso, mas é bom reforçar as obviedades hoje, tanto para os radicalistas
da arte, quanto para os conservadores da arte. Como foi dito antes
aqui, o termo “belo” nas artes é ultrapassado e diminutivo, portanto, o
indivíduo deve ir mais além, pense mais ao se deparar com uma obra de arte, e
com isso digo: conheça o autor melhor, seja mais curioso sobre o conceito e a
técnica usada por ele, procure saber o sentido de sua obra antes
de qualquer julgamento.
Conhecendo a obra do casal Christo-Denat, você verá que eles fizeram algo impressionante, não foi brincadeira cobrir objetos gigantescos, o sentimento e a razão que os artistas buscaram com isso foi o de chocar a vida cotidiana que já está acostumada a fazer a mesma atividade, o mesmo trajeto, uma vida acelerada pelo Piloto automático e pelo capitalismo selvagem, eles buscaram fazer os parisienses olharem para o Arco do Triunfo outra vez, e dessa vez com curiosidade, com estranheza, isto é, fizeram os parisienses se sentirem humanos outra vez; tudo isso por causa dessa alteração da paisagem que a muito era comum, o monumento fez falta quando estava coberto. Contudo, o seu conceito voltou a existir, ou melhor, Arco do Triunfo voltou a existir graças ao casal de artistas.
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