Vivendo no Mundo sem Arte?
Vivendo no Mundo sem Arte?
Já imaginou um
mundo sem artes? Parece bizarro e impossível, pois, a arte é uma concepção
primordial do ser humano depois da crença e do pensamento racional; porém, um
mundo sem artes pode existir de forma planejada, apenas aparentando que
a arte ainda exista, mas que, no fundo, seja algo completamente
diferente. Sabe por que um mundo sem artes poderia existir? A primeira resposta
é bem simples e elimina esse romantismo de adoração da arte, que eu já
apresentei no início desse texto, e para completar aqui, digo que ser humano de
fato não consegue viver sem arte, mas podemos talvez viver sem
consciência da arte, sem termos consciência de criar,
mas criar é inerente à vida. A vida, tal como ela é, inclui a arte;
a arte está em todo o processo de vida, porém, não vivemos em um
eterno estado de contemplação, ou concentração, em um determinado objeto do seu
cotidiano, e como foi dito no tema anterior, podemos perder a noção consciente
sobre arte.
Você pode pensar
que não ignora as artes, ou que você seja uma exceção ao que estou dizendo,
porém, devo insistir em afirmar que podemos ignorar a arte de alguma forma.
Vejamos um simples exemplo: olharemos para a arquitetura de uma cidade. Simplesmente
ignoramos a beleza de um casarão colonial, ou também de uma construção moderna
com belas curvas no “estilo Niemeyer”. Podemos usar um exemplo mais
interessante ainda, algo que existe em qualquer cidade da Paraíba,
especificamente nos prédios públicos do estado, principalmente em escolas, isto
é, a arte do pintor holandês Piet Mondrian (1872 – 1944).
Aqueles quadrados e retângulos coloridos é arte moderna abstrata, sendo mais
específico, arte do Neoplasticismo que faz parte do movimento
abstracionista.
O meu ponto de
vista sobre isso é: por que nunca reparei nessa estética artística das escolas
estaduais antes? Se referindo a minha pessoa para essa resposta, digo que minha
falta de curiosidade está sendo solucionada aos poucos, e ela começou quando
tive contato com o estudo da música e das artes visuais, e também pela
filosofia; claro que só percebi isso depois de ter acesso a esse material
de estudo, e assim pude chegar finalmente na arte de Mondrian. Antes
de ter acesso à cultura através de um projeto social, tenho acreditado que o
meu episódio com Mondrian tenha sido, talvez, falta de atenção de
minha parte, pensava que todas aquelas formas geométricas, era apenas algo
banal, chegando ao ponto de ignorar elas, e repito: só
achava banal por não ter curiosidade.
Devia haver uma explicação para isso, então pesquisei algo a respeito e vi que existe um termo formulado cientificamente sobre essa minha problemática, que é: estar vivendo no “Piloto automático”, este termo é dado ao estado do cérebro quando ele faz coisas monótonas por você, isto é, sem você mesmo perceber. A reflexão que fiz, tem como base também o tema, a “sociedade distraída”, que já foi abordada por outros pesquisadores, estes estudam o aumento da distração das pessoas no meio social por meio da tecnologia.
A cada dia, passamos a ficar mais
viciados em rolar o feed das redes sociais, consumindo e misturando
informações sem parar, e fazendo isso em qualquer lugar; por exemplo, quem
nunca usou o celular no meio da rua enquanto anda ou dirige? É um feito que
pode levar a uma fatalidade. Nossa atenção está a cada dia mais reduzida, veja
que chegamos a um nível de dependência de distração criada por um mundo
artificial, ou melhor, de consumir informações irrelevantes para distrair a
mente, o que pode levar o cérebro a se sobrecarregar de inutilidades e não
conseguir memorizar algo essencial e necessário, fazendo de nós menos
eficientes em padrões de curiosidade, reconhecimento e de memória, os
pesquisadores de Stanford chamam isso de: “Multitask”.
Podemos inferir que
chegamos a um determinado ponto de perdermos o interesse no mundo ao nosso
redor, de maneira visual e com um aprendizado incompleto, cheio de fórmulas
prontas para decorar, mas não entender. Pode ser que você saiba o que é
determinada coisa por ter aprendido sobre ela, mas não a reconheça na
prática; pode ser que você veja algo, mas não tem curiosidade de
saber o que é ela. Exemplificando: Do que adianta você estudar sobre o concerto
para piano N. 2, do compositor alemão J. Brahms (1833 – 1897), e você
não ouvir a música em seguida; ou você estudar, ou apenas ler uma resenha,
sobre o livro Dom Casmurro, do escritor brasileiro Machado de Assis (1839 –
1908), e não ler o livro em si. No fim dessa
exemplificação, também enxergo algo nessa prática, isto é, um ponto semelhante
ao “Fetichismo consumista”, onde o sujeito quer simplesmente consumir a cultura
como se fosse um enlatado, mas fazendo isso por puro prazer, ou seja, a prática
do possuir e do comprar, portanto imagine então o viciado
em comprar livros, ele apenas compra, mas não lê, ele não
se interessam pela experiência estética; e aqui no exemplo da nossa discussão
de fato, vejo que essa prática seja apenas voltado ao ato
de consumir o máximo de resumos de informações culturais que puder,
ou seja, imagine então o sujeito não tem mais uma estante
de livros, mas sim uma estante cheia de resumos de uma
página, a experiência estética desse sujeito é
acelerada, e com essa aceleração ele não é capaz de reconhecer o
produto original, isto é, na prática, ele não reconhece a arte, mas sim um
recorte simplificado dela, ou seja, o indivíduo passou por um processo semi-cultural para se tornar em pouco tempo um integrado.
Como havia falado antes sobre a curiosidade, o mundo de hoje é movido pela sua ausência, de auditiva e visual, isto é, em um Piloto automático do aprendizado; vivemos em um mundo de resumos, em que você tenta decorar o máximo de fórmulas para tentar parecer uma pessoa razoavelmente esclarecida, que use exemplos superficiais no discurso ao ponto de se parecer com um sofista, ou se encher de notícias tolas e sem propósito, de algum assunto ou simplesmente para saciar a vontade de vigiar a vida alheia de alguma celebridade.
Veja que o meu caso com a arte de Mondrian foi por eu estar no Piloto
automático visual, ou seja, a minha curiosidade visual já não
funcionava, já não era um bom observador dos detalhes ao meu redor, se fosse,
eu teria tido vontade de estudar aquela obra de arte há muito mais
tempo. Contudo, eu posso dizer que vivia no piloto
automático, vivia não, penso que ainda posso estar vivendo
no piloto automático, pois, para sair
do piloto automático requer muito do ser humano, porém, é
necessário um esforço que nos faça sair da zona de conforto e
observar o mundo com mais atenção, superar
o piloto automático do aprendizado, e não só no campo da
estética, mas também em outros assuntos, se não a boiada acaba passando por
cima da floresta.
Continuaremos nossa
discussão aqui no campo da estética, continuarei falando sobre a arquitetura,
que é a arte mais fácil de cair no banal, e fácil de ser vivenciada
no piloto automático visual.
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