Forrest Gump: A leveza do Ser, por Janilson Fialho

 Forrest Gump: A Leveza do Ser, por Janilson Fialho*

   Forrest Gump (1994) é um filme que traz reflexões sobre a Ingenuidade de um indivíduo na cultura norte-americana, e assim, a história vai sendo contada de forma humorada, mas que também vai caminhando ao lado de uma visão crítica a forma maniqueísta e revisionária da história recente dos EUA no século XX; portanto, mostrando como a guerra pode destruir todos os planos das pessoas, as consequências da corrupção na política, o uso de drogas e DST’s, e também há uma forma irônica de se ver os progressistas e os conservadores, e principalmente, como uma pessoa simples e racionalmente limitada, mas com boas intenções, interage em uma sociedade cruel, e assim fazendo de forma indireta o seu próprio destino.

   Forrest Gump representa o arquétipo do personagem “inocente”, ele é retratado levando uma vida simples, apenas movido pelas virtudes que o coração manda, assim sem pensar muito nas consequências dos seus atos, ou ainda, aparentando negar a dor que o cerca em cada situação em prol de sua fé; e é por essa fé (aqui devo dizer que o personagem não é nenhum idealista utópico) que ele consegue sobressair e extrair lições positivas dos infortúnios.

   O personagem não chega a ser perseverante, pois, ele não traça um plano futuro de suas ações, ele age apenas de forma aparentemente aleatória, ou como se estivesse no lugar certo e na hora certa. O que define ele mesmo, é o que o filósofo alemão G. W. Leibniz (1646 – 1716), chama de “Otimismo”; este pensamento de Leibniz pode ser resumido na afirmação de que, sendo o universo criado por Deus, nele se torna possível conciliar o máximo de bem e o mínimo de mal, o que faz dele “o melhor dos mundos possíveis”, assim, essa visão filosófica combina bem com o tema do filme. Entretanto, o otimismo do personagem é um tanto diferente, e aqui me utilizo de uma frase da romancista George Sand (1804 – 1876) para tentar mostrar a onde quero chegar: “A pessoa é feliz quando conhece os ingredientes necessários para a felicidade: gostos simples, um certo grau de coragem, abnegação até certo ponto, amor ao trabalho e, primeiro, uma consciência limpa”. Forrest possui esses atributos do pensamento da escritora, mas não os tem como se fosse algo prioritário, ou regulado, ou seja, Forrest não busca a felicidade, ele não tem isso como meta, e nem sente necessidade de procura-la, ele já é feliz sem ter a noção de que é, e sem ter um controle sobre ela; assim o personagem, com sua limitação mental, que não chega a ser um problema, se faz comparável a uma criança. Então, o objeto de desejo para Forrest não é utilizar algo para se alcançar o estado metafísico de felicidade, assim como fazem as outras pessoas ao redor dele, que constroem metas objetivas visando o que pensam ser a felicidade, e que esta felicidade só pode ser alcançadas através de objetos materiais, e ao ser alcançada, eles se deparam com a ausência da felicidade, ou pior, com o sumiço rápido da felicidade, assim só aumentando o desejo destrutivo de alcançar ela novamente. Sendo assim, Forrest se diferencia das pessoas, ao simplesmente buscar apenas o objeto de desejo, e nada mais além disso, não o busca como se fosse atingir a metafísica de felicidade.

   Há uma frase belíssima do pintor russo Marc Chagall (1887 – 1975) que é assim: “Haverá sempre crianças que amarão a pureza, apesar do inferno criado pelos homens”. Portanto, Forrest é uma “criança/adulta” que não segue o caminho da razão, e sim o da emoção, vivendo em um mundo racionalmente adulto e cruel, e todos aqueles ao seu redor neste mundo adulto, que seguem a racionalidade, sofrem por serem escravizados pelo pensamento, pelos sonhos que são meramente desejos mesquinhos; assim, vale dizer, que a pureza desse personagem é mais forte. A pureza dele é igual à pena que flutua até os seus pés no início do filme, ela representa a leveza do seu ser, que vai sendo levado pela vida a participar de momentos cruciais, e perante a face desses obstáculos, a sua pureza acaba assegurando que tudo se sairá bem no final, mesmo em alguns momentos em que a solução seja fugir correndo de problemas.

   Por fim, Forrest é um personagem rico e admirado em suas virtudes, sendo elas exatamente a bondade e a dignidade, e assim, ao receber ajuda e cuidado dos outros, e estes que o ajudaram acabam também sendo influenciados e transformados indiretamente por isso. Forrest Gump nos ensina que a vida é bem mais que um acaso, é um milagre que não entendemos, ou que só podemos entender se olharmos pela perspectiva de uma criança.

*Janilson Fialho, estudante de Filosofia (P1) no turno da noite, UEPB.

Comentários

Postagens mais visitadas