Afinal, O que pode ser Arte?

Afinal, O que Pode Ser Arte?

   Se o cotidiano transforma a arte em um objeto banal, pode o artista fazer de um objeto banal uma obra de arte? E a resposta é sim. Eles podem, e já fizeram. Tentarei expor a minha visão sobre a arte, como ela está inserida na sociedade contemporânea, e também falarei de outros assuntos ligado a ela em diversos temas. Portanto, iniciarei a discussão com este tema, e transmitirei a minha visão sobre este assunto.

   Arte Conceitual surgiu na década de 1960, como um desafio às classificações impostas à arte por museus e galerias; com isso, uma figura surgiu para questionar os conceitos e categorização da arte, essa pessoa foi o pintor, escultor e poeta Marcel Duchamp (1887 – 1968), foi o precursor da Arte Conceitual, e considerado um dos grandes artistas da época do Dadaísmo, e que tinha como objetivo em suas obras de artes a ruptura com o tradicional, isto é, uma atitude “anti-arte”, e como também tendo por principal objetivo chocar o espectador. A arte Conceitual buscava questionar a própria natureza da arte, assim realizando uma pergunta simples, porém importante: O que é arte? Duchamp questionou o que de fato era arte à sociedade conservadora do século XX que frequentava as galerias de artes, ao colocar em uma exposição um mictório como peça de arte, ou seja, deslocou um objeto banal para dentro de uma galeria, cujo único objetivo era saber como caminhava a consciência das pessoas sobre a arte. Até hoje aparece algum artista fazendo o mesmo que Duchamp, e um exemplo que aconteceu recentemente foi uma obra de arte exposta no museu Art Basel em Miami, nos Estados Unidos, que chocou o mundo ao ser vendida por US$ 120 mil. A peça de arte era a obra Comedian, do artista italiano Maurizio Cattelan, era uma banana colada na parede com uma fita adesiva. Com isso, você deve estar se perguntando se essa banana colada na parede é arte, e a minha resposta é sim.

   O questionamento é sempre importante para nos tirarmos do comodismo, e quando falo em comodismo não pense que estou afirmando que a arte moderna e contemporânea é preguiçosa, ou que estou fazendo uma defesa conservadora da arte clássica contra a arte moderna, ou algo do tipo; pelo contrário, aqui defendo um diálogo sobre elas, e principalmente sobre a consciência perante a arte, ou seja, defendo o conceito na arte, isto é, o que ela pode transmitir as pessoas. Portanto, vejo que uma definição de arte vai além do belo, afinal, esse conceito de beleza é superficial e pode levar a uma mera apreciação inconveniente, que não vai muito além do apenas observar; vejo também que a arte está vivendo o auge da saturação através do marketing, mas isso será tratado detalhadamente mais a frente.

   Outro exemplo é o pintor e cineasta norte-americano Andy Warhol (1928 – 1987) com a pop art. Ele pintava de forma seriada as coisas mais banais da sociedade capitalista, como latinhas de Coca-Cola e de sopa Campbell e principalmente pela sequência de retratos de Marilyn Monroe. Veja, Warhol retira do cotidiano as coisas que você ignora, ou que só usa como utensílio para as necessidades, portanto, você deve pensar que isso é uma arte tola ou que seja apenas um caça níquel de ingenuidade (pode até ser, mas aí é uma coisa mais provável que o mercado da arte faça, do que o artista possa fazer), quando só é observado de forma superficial para ela, até mesmo dizer que não é arte, se caso você for mais limitado ainda. Convenhamos que você não considere o mictório na galeria uma obra de arte porque você não acha que ela é uma coisa “bela”, ou que não pode contemplar ela, será que você pensa o mesmo da estátua realista que você vê todos os dias ao passear pela praça? Do casarão colonial que você vê todos os dias no caminho do trabalho? Ou, por exemplo, o quadro em sua parede? Ou da música que você coloca para tocar como pano de fundo para uma atividade paralela? O conceito de “contemplação” acaba de ser testado, pois como vemos, essa é uma das frases mais ditas pelos conservadores das belas-artes, entretanto, a arte tão sagrada que eles tanto falam e tanto admiram, pode cair na banalidade com facilidade, e por eles mesmos, ou seja, o belo pode ser banal.

   O conservador que tem ranço da arte moderna só usa o discurso de “contemplação do belo” quando se depara com alguma peça que foge do seu padrão superficial de “belo”, diz que estão banalizando a arte, porém, ele é o primeiro a banalizar a arte ao apenas enxergar de forma míope as camadas mais superficiais da tela e não usar os neurônios para fazer uma análise do que está vendo, ou pelo menos ter um pouco de força de vontade em ir buscar informações sobre o que vê, ou escuta. Quando o indivíduo faz uma das coisas que eu já citei, ou seja, ao ignorar a arte ao seu redor, o indivíduo simplesmente já foi infectado pelo vírus da saturação e do desencanto, aquela linda pintura é agora um simples utensílio para tapar um buraco na parede. Portanto, cabe perguntar: O que seria a arte de fato? Ou, melhor ainda: O que seria uma arte não banal? Tem alguma maneira dela não se tornar banal?

   Contudo, é quase impossível escaparmos da saturação quando se convive com a arte o tempo todo, o encanto pode sumir alguma hora. E para fugirmos da mesmice, eis que surge uma resposta, que é fugir da saturação, isto é, nós procuramos viajar, e viajar apenas para ver novos lugares bem distantes da nossa rotina, para conhecermos a arte daquela nova cidade ou país, viajamos para esquecermos da mesma arte, então para voltarmos a olhar para aquela arte saturada será necessário fazer uma nova interação com ela. Contudo, tratarei da nova interação com a arte no próximo tema.

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