A noite agora estava clara quando outrora havia caído uma tempestade, um belo tom azulado de uma típica cena de noite americana tomou conta do cenário. No céu, o tecido galáctico brilhava forte contrastando com a aterrorizante e hipnótica estrela negra cercada pelo seu disco gravitacional. Na terra, apenas desolação, um lugar desolado e destroçada pelas máquinas que há muito tempo estavam abandonadas pelos homens, a destruição teve como propósito criar uma rodovia, uma rodovia que leva até o fim da humanidade.
O que sobrou da humanidade? Não se sabe, tem alguém aí? Sim. Apenas duas pessoas, um garoto solitário seguido pela mãe. Ambos caminhavam pelo deserto de concreto e aço, encharcado pela chuva ácida das antigas indústrias, o brilho das estrelas refletia nas poças de água, o breu azulado carregava uma neblina baixa, quase rasteira. O que procuravam na cidadela fantasma? Não se sabe, talvez alguém. Uma sensação de incômodo no garoto o levava para dentro daquele lugar, talvez seja esperança. Mas, por que esperança? Não se sabe, pode haver vida aqui, igual pode nascer uma flor no meio do deserto.O garoto procurava, revirava cade pedra e olhava em cada fenda. A mãe só observava tudo com uma expressão de pesar no rosto. Ao passar algum tempo nessa procura sem propósito, uma cortina cinzenta fechou o céu novamente, a noite ficou mais densa e dolorosa, carregando um ar ainda mais gelado, causando arrepios no garoto.
O lugar se tornou mais opressor, mas ele continuava andando pela desolação. É uma sensação estranha, e a curiosidade o conduz por ela. A gravidade não surte efeito nas pedras, elas estão estáticas no céu escuro. Pingos de chuva azul brilhando igual estrela candente começam a cair e a beijar o solo escuro. Uma cidade em destroços mostra a sua verdadeira face, revela o que há por dentro das carapaças de concreto, carne cinza empoeirada e ossos de aço corroída pela ferrugem do tempo esquecido. O vento congelado sibilando como gritos infernais açoitavam a pele suja de lama do garoto que estava a muitos metros a frente da figura da mãe. Ao passar por entre a destruição, uma vontade de gritar o tomou, mas gritar por quem? Não se sabe, talvez pela mãe. E assim ele o fez. Três gritos, três chamados pela mãe. Ele só queria abraçar ela naquele instante, mas por quê?
Uma coluna de água estava atrás de um monte de destroços, uma coluna de água que subia até o céu, uma coluna com uma água límpida e brilhante. Dentro da coluna de água havia alguém, uma mulher, era a mãe do garoto, que há muito tempo estava morta e a coluna de água era o seu túmulo.
Por que existe essa sensação de desconforto? Não se sabe, talvez seja angustia. Seu pulmão, o que há com o seu pulmão? Sente ele se fechando? Não consegue puxar o ar para dentro, essa sensação de haver um cadeado na sua traqueia, o que ele tanto segura dentro de si? Tudo o que ele quer é chorar, não é, porque ele não expõe o seu desespero?
A face da morte é assim, fria e gelada, igual um dia chuvoso, onde cada gota de chuva é uma lágrima de luto. Mas, quem era aquela que o acompanhava? Destino? Tempo? Só Deus sabe.
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